domingo, 4 de novembro de 2012

SALGADO MARANHÃO

Salgado Maranhão, nosso poeta nos States. Transcrito do site Portal do Sertão em entrevista a Joca Oeiras
 

Quem conhece poesia e estuda a poesia brasileira sabe que ele é um dos mais inspirados poetas da atualidade. Falo do José Salgado Maranhão, poeta maranhense que, na juventude, viveu em Teresina e fez amizade com Torquato Neto. Ele se encontra, no presente momento, em visita aos EUA, de onde recebeu convites de 53 Instituições universitárias de todo o pais (27 Estados) para proferir palestras acerca de seu labor poético. Ele e seu tradutor, Alexis Levitin,ao final da jornada, terão percorrido 26 mil kms



Bill Kennedy, famoso escritor americano ganhador do Pulitzer ( ao centro)


Portal do Sertão Conte, se possível, em detalhes, como foi parar ai;quem e porque o convidou. Seus livros já estão traduzidos para o inglês?
 
Salgado Maranhão Minha obra já está sendo estudada, regularmente, nos Estados Unidos, há mais de 10 anos. No ano 2000, um livro meu que havia ganhado o Premio Jabuti, chegou às mâos do prof. Luiz Fernando Valente, chefe do Departamento de Literatura em Língua Portuguesa da Brown University, e ele, então, tomou-se de amores pelo meu trabalho. Em 2007, eu fui convidado para acompanhar o encerramento de um curso sobre minha poesia para doutorandos e participar de um festival com poetas de Cabo Verde, Portugal, Angola e Moçambique. Foi aí que conheci o meu tradutor, Alexis Levitin, que, atualmente, é o melhor tradutor de poesia para a língua inglesa, só para se ter uma ideia, ele traduziu quase toda a grande poesia portuguesa do século XX. Do nosso encontro resultou na tradução do Sol Sanguíneo (Blood of the sun), que estamos lançando nesta longa excursão por 53 universidades americanas, e de um outro livro meu que se chama, A pelagem da Tigra, que ainda nao foi editado. 


Salgado & Levitin, Sol Sanguíneo & Blood of the Sun, poesia bilingue

 
 
 
 
 
 
 
 
 
Portal do Sertão Quando soube do(s) convite(s), qual foi sua primeira reação?

Salgado Maranhão Fiquei super contente, mas não surpreso, pois, já estava contando com esse desdobramento. Susto grande, tomei, com a quantidade de convites. Nenhum escritor brasileiro, nem Érico Veríssimo, que também fez uma longa excursão por aqui na década de 50 ou 60, realizou uma viagem por tantos lugares. Ao final da trajetória, eu e o meu tradutor teremos rodado em torno de 26 mil km e percorrido 27 estados americanos.

Portal do Sertão Nesta altura, você me disse, já visitou 19 universidades. Onde se deu a sua experiência mais gratificante? Explique porque.

Salgado Maranhão Sim, já fui a 19 universidades e só tive alegria, chega a ser comovente o carinho e a reverencia comigo. Meu público é formado de professores e de estudantes de literatura, que sempre me recebem com meus poemas xerocados ou com o próprio livro nas maõs, a seriedade aqui é imensa.O ensino neste país, não tem comparação com nada que eu já vi, as universidades são lugares permanentemente habitados, as bibliotecas (estou lhe escrevendo de uma delas) são lugares agradabilíssimos e ficam abertas até duas da manhã. Algumas não fecham nunca.São super equipadas de computadores de última geração para quem precise usar. Cada lugar em que estive me trouxe uma experiência nova, desde ver pessoas chorando quando eu falo um poema dedicado à minha mãe, as pessoas fazendo fila para comprar meu livro. Ontem, por exemplo, eu vendi 51 numa única leitura.

Nenhuma decepção nesta viagem, ao contrário, tudo que tem me acontecido nos EUA está muito acima do esperado. Aqui eu compeendi o que é atitude de Primeiro Mundo: não é uma questão de dinheiro, mas de auto-estima, de querer ser o melhor, virtudes que ainda nos faltam muito.

Portal do Sertão Vc acha que os acadêmicos americanos gostam da sua poesia porque ela é feita "pra inglês ver?" Se não, a que atribui esse sucesso?

Salgado Maranhão De jeito nenhum, até porque, quem começou a estudar minha poesia, aqui, foi um professor brasileiro. Além disso, antes de ser estudado nos Estados Unidos, eu já era estudado no Brasil desde quando lancei o meu primeiro livro, o Ebulição da Escrivatura. Nessa época (1978), eu estudava comunicação social na PUC do Rio, e meus poemas eram usados para monografia dos formando de letras na mesma universidade. Como o Ebulição foi um dos poucos livros, de jovens poetas, lançados por uma grande editora (Editora Civilização Brasileira) naquele período, é citado nos principais ensaios sobre a poesia daquele momento. À parte isso, os americanos detestam quem os imite. Um jovem professor de Harvard, falando com fluência a nossa língua, chegou a me dizer, textualmente: "gostamos da sua poesia porque ela é brasileiríssima. Não precisamos daquilo que já temos".

Portal do Sertão
Pesquisando, descobri que, além de poeta premiado você é um proficiente compositor da MPB.

Salgado Maranhão Fiz parcerias e gravacões com diversos artistas, mais de 50. Mas o letrista é uma eminência parda, fica atrás do pano. Uma música que a Zizi Possi gravou (Caminhos de Sol, com o Herman Torres) fez um sucesso danado, depois o Yahoo regravou e foi tema de novela na Globo, agora ela tem umas dez gravações. Com a grana que ganhei, comprei uma casa pra minha mãe. Além dela, a Elba também gravou trabalhos meus, o Paulinho da Viola, o Elton Medeiros, a Amelinha, o Ney Matogrosso, a Alcione, o Zé Renato, o Zeca Baleiro, o Dominguinhos, e um montão de outros mais. Inclusive, o novo lançamento do Ivan Lins, tem uma canção nossa que dá título ao CD.

Portal do Sertão O professor Cineas Santos perguntou o que você acha do trabalho que o Alexis Levitin realizou ao traduzir o seu livro “Blood of the Sun” (Sol sanguíneo). Cineas lembra que o bom tradutor de poesia faz um trabalho de recriação, Encarece, também, as dificuldades de traduzir a poesia do Salgado Maranhão

“– Não sei como isso funciona com a poesia dele, tão rica em metáforas gritantes”, diz o velho ancião.

Salgado Maranhão - Meu mano Cineas sabe das coisas e me conhece desde o começo. Ele tem inteira razão: não é possível traduzir, convenientemente, poesia sem recriá-la na outra língua. Do contrário, fica uma dublagem, tem significado, mas não tem significância, não toca o coração de ninguém. No meu caso, o tradutor trabalhou comigo ao lado, verso a verso, palavra a palavra, buscando a melopéia correspondente na língua inglesa. Foi um trabalho de reconstrução de um novo poema numa nova língua. O resultado tem merecido elogios dos especialistas e do público, em geral. O próprio tradutor, que acaba de ser convidado para participar da tradução do Grande Sertão: Veredas, do Rosa, me disse que, traduzir minha sintaxe idiossincrática, é um trabalho de ourives.

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