Edmar Oliveira
Fui encontrar os mouros na península Ibérica. Eu tinha medo
deles na minha infância, no interior do Piauí. Minha avó sempre dizia que eles
vinham tomar nossas riquezas e raptar nossas princesas. E eu tinha medo de
atravessar o Parnaíba, pois achava que eles estavam escondidos nas matas do
Maranhão.
Tive oportunidade de conhecer a Andaluzia e entre outros
grandes monumentos da herança moura destaco três construções que acumulam a
história da humanidade e as nossas raízes.
Córdoba é uma cidade
romana, que depois da invasão árabe tornou-se a capital do domínio mulçumano na
península Ibérica. No conservado bairro mouro, com ruas de judeus e cristãos,
numa tolerância religiosa invejável, desponta a mesquita-catedral. Maior
mesquita árabe (maior que Meca) com uma arquitetura admirável com arcos em ouro
e cerâmica numa riqueza de detalhes espantosa, minaretes imponentes. É chamada
de mesquita-catedral porque os reis católicos, na unificação do território
espanhol e expulsão dos árabes, ergueram uma igreja cristã em seu interior. Mas
a catedral não tira o brilho da mesquita que se conserva como testemunha de um
povo que marcou a civilização ibérica.
Em Sevilha o palácio de Alcazar sobressai na sua beleza. Há
muito alcazares em Espanha, mas o de Sevilha foi suntuoso em tal monta, que
depois da reconquista dos reis católicos serviu de morada a Felipe III de
Castela e a outros monarcas. Mais tarde, Pedro I de Espanha, o Cruel, fez ali o
seu castelo, aprimorando a obra dos árabes (interessante fascínio de um rei
pela cultura inimiga) e Alcazar é o maior exemplo de arquitetura mudéjar em
Espanha. Um assombro aos olhos.
Mas de todos Alhambra em Granada é o mais impressionante.
Córdoba já havia tombado. Os reis católicos retomavam o território árabe
conquistado. Em Granada, o último reduto mulçumano, ergue-se Alhambra, o
paraíso na terra. Uma cidadela monumental. Pobre e simples por fora, como prega
o despojamento ao terreno do mouro. Rica por dentro, como deve ser o interior
do homem. Impressionante o sistema hidráulico herdado (e aperfeiçoado) dos
romanos: em cada cômodo uma fonte de água fresca com sistemas de tanques que
regulam a vazão de cada bica. A decoração, embora pobre de ouro, é muito rica
em detalhes em cerâmica e gesso. Os jardins labirínticos e suntuosos com
piscinas naturais não deixam dúvidas de como se pode erguer um paraíso na terra.
Os mais famosos elementos da arquitetura islâmica na Espanha podem ser
admirados ali. Fabuloso.
É tão marcante a influência da civilização islâmica na
península ibérica que as batalhas de conquistas atravessaram o Atlântico e as
lendas que minha avó contava, no interior do Piauí, traziam a cultura daquele
povo conquistador nos nossos medos. Agora que pude vê-los não tenho mais medo.
Mas os admiro sem poder dizer o quanto.
Um espectro ronda a Europa e não é a ameaça de Marx. A
migração árabe pode fazer nova invasão.
Um comentário:
Lindo o seu jeito de captar a magia da Andaluzia. E de relatar, claro. Como sempre. Abração. Graúna
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