Eu
me vejo pintado na janela
Um retrato vivo olhando a rua
Uma moça passa na passarela
Está desfilando e se insinua.
Ela quer pegar o meu retrato
Pra me colocar em sua moldura
Mas o meu quadro é um abstrato
Sonho de um poeta uma pintura.
Vou ter de fugir rapidamente
De sua sanha de colecionadora
Desbotar-me e ficar quase sem cor.
Foi o que fiz então exatamente
E fiquei olhando-a ir se embora
Tendo nos lábios um riso de rancor.
(Geraldo Borges)
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ilustração: "Rembrandt Desenhando à Janela", auto-retrato em água-forte de 1648.
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