Edmar Oliveira
Na viagem do
Piauinauta ao Velho Mundo, com que venho enchendo o saco de vocês há três
edições (mas aqui, prometo acabar), não poderia faltar Lisboa. Conhecer a Torre
de Belém, de onde partiram os descobridores do mar bravio, é admirar um Vasco
da Gama ou um Cabral. Que, como Colombo ou Magalhães, não descobriram outras
terras, aqui elas já estavam, mas o caminho pelo mar até outras civilizações. Ali
o Tejo parece já o mar. Serpenteia a Espanha com outra pronúncia, como se os
goianos chamassem o Parnaíba de Pernáiba, ou algo assim.
Mesmo com a
crise que ronda a Europa, achei os portugueses alegres e simpáticos. Não é mais
aquele povo que a gente não entendia a língua. As novelas da TV fizeram o
milagre da unificação da fala, da gíria, dos entendimentos. E é muito mais
comum ouvir-se uma MPB, em qualquer lugar, que um fado. Claro que a lógica
portuguesa, que pra nós vira piada, também tinha que acontecer: um de nós pediu
ao garçom para provar um doce português, a resposta nos fez rir, mas tinha sua
razão de ser: “todos os nossos doces são portugueses” – explicava-se um garçom
sorridente por não entender porque fizemos pergunta tão burra.
Lisboa é
muito bela, mesmo que um guia nos lembrasse de que, hora por outra, um
terremoto pudesse repetir o de 1755 que destruiu a cidade. Impressionante um
aqueduto romano, sobrevivente do sismo, a nos mostrar a força da engenharia
daquela civilização.
Pombal
reconstruiu a cidade e a Baixada Pombalina, em torno da Rua Augusta, que vai do
Terreiro do Paço ao Rossio e a Praça da Figueira, constituindo-se numa
verdadeira cidade “moderna antiga”. As construções de três andares foram
“testadas” com desfile de tropas para simular um terremoto e as casas foram
dotadas de poços para a prevenção de incêndio com paredes dos edifícios duplas
e maiores de que o telhado (paredes corta-fogo). A cidade possui a primeira
rede de esgoto subterrânea moderna. Pombal construiu Portugal e expulsou os
jesuítas no reino e nas colônias, sabemos dele aqui.
Bonaparte, o
francês abusado, invadiu Portugal no começo do Século de XIX, obrigando D. João
XVI vir para o Brasil. Acho que a língua portuguesa e a transferência da corte
de Portugal para o Brasil contribuíram para nossa unidade nacional em tão vasto
território.
Mas lá em
Lisboa, depois de Pombal, o bonde subiu ao Chiado que se transformou em centro
comercial e literário. Sentar nas tascas para uma cerveja é um encontro com o
passado. N’A Brasileira podemos tomar um drink com a estátua de Fernando Pessoa
lembrando que “não posso querer ser nada. À parte a isso tenho em mim todos os
sonhos do mundo”. E no largo do Chiado é possível um encontro com Eça, Almeida
Garret, Ramalho Ortigão, Guerra Jungueiro ou Alexandre Herculano. A paisagem se
faz em sépia com os bondes elétricos subindo a ladeira.
Lisboa
conserva nas suas ruas estreitas, nos paralelepípedos, na sua arquitetura um
gosto de antigo, mas como nossa extensão saudosa. E os velhos Elétricos ainda
andam nos trilhos de Lisboa. A gente já tem saudade antes de vir embora.
___________________
Ilustrações: no postal antigo o mesmo largo do Chiado que visitamos. O Elétrico ainda sobe a ladeira passando n'A Brasileira. Em Sintra, uma vila mágica, tomando uma cerveja com Lord Byron, que ali morou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário