domingo, 4 de novembro de 2012

Das histórias que minha avó contava


Edmar Oliveira
 
Fui encontrar os mouros na península Ibérica. Eu tinha medo deles na minha infância, no interior do Piauí. Minha avó sempre dizia que eles vinham tomar nossas riquezas e raptar nossas princesas. E eu tinha medo de atravessar o Parnaíba, pois achava que eles estavam escondidos nas matas do Maranhão.

Tive oportunidade de conhecer a Andaluzia e entre outros grandes monumentos da herança moura destaco três construções que acumulam a história da humanidade e as nossas raízes.

 Córdoba é uma cidade romana, que depois da invasão árabe tornou-se a capital do domínio mulçumano na península Ibérica. No conservado bairro mouro, com ruas de judeus e cristãos, numa tolerância religiosa invejável, desponta a mesquita-catedral. Maior mesquita árabe (maior que Meca) com uma arquitetura admirável com arcos em ouro e cerâmica numa riqueza de detalhes espantosa, minaretes imponentes. É chamada de mesquita-catedral porque os reis católicos, na unificação do território espanhol e expulsão dos árabes, ergueram uma igreja cristã em seu interior. Mas a catedral não tira o brilho da mesquita que se conserva como testemunha de um povo que marcou a civilização ibérica.

Em Sevilha o palácio de Alcazar sobressai na sua beleza. Há muito alcazares em Espanha, mas o de Sevilha foi suntuoso em tal monta, que depois da reconquista dos reis católicos serviu de morada a Felipe III de Castela e a outros monarcas. Mais tarde, Pedro I de Espanha, o Cruel, fez ali o seu castelo, aprimorando a obra dos árabes (interessante fascínio de um rei pela cultura inimiga) e Alcazar é o maior exemplo de arquitetura mudéjar em Espanha. Um assombro aos olhos.

Mas de todos Alhambra em Granada é o mais impressionante. Córdoba já havia tombado. Os reis católicos retomavam o território árabe conquistado. Em Granada, o último reduto mulçumano, ergue-se Alhambra, o paraíso na terra. Uma cidadela monumental. Pobre e simples por fora, como prega o despojamento ao terreno do mouro. Rica por dentro, como deve ser o interior do homem. Impressionante o sistema hidráulico herdado (e aperfeiçoado) dos romanos: em cada cômodo uma fonte de água fresca com sistemas de tanques que regulam a vazão de cada bica. A decoração, embora pobre de ouro, é muito rica em detalhes em cerâmica e gesso. Os jardins labirínticos e suntuosos com piscinas naturais não deixam dúvidas de como se pode erguer um paraíso na terra. Os mais famosos elementos da arquitetura islâmica na Espanha podem ser admirados ali. Fabuloso.

É tão marcante a influência da civilização islâmica na península ibérica que as batalhas de conquistas atravessaram o Atlântico e as lendas que minha avó contava, no interior do Piauí, traziam a cultura daquele povo conquistador nos nossos medos. Agora que pude vê-los não tenho mais medo. Mas os admiro sem poder dizer o quanto.

Um espectro ronda a Europa e não é a ameaça de Marx. A migração árabe pode fazer nova invasão.

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fotos: Alhambra no alto. Em sequência: Mesquita de Córdoba, Alcazar, Alhambra (teto), Alhambra (paredes)

Um comentário:

Fatima Lima disse...

Lindo o seu jeito de captar a magia da Andaluzia. E de relatar, claro. Como sempre. Abração. Graúna