domingo, 15 de abril de 2012

Sigam-nos os que forem brasileiros

Edmar Oliveira
Não gosto quando recebo “correntes” que esculhambam o parlamento nacional genericamente, quase sempre dando a entender que os “políticos” são desnecessários. Sei até que, na sua maioria, eles não merecem a defesa que faço aqui. Mas é que carrego um trauma de “história”. Vivi sob os anos de chumbo, e sei como nos foi caro conquistar a democracia e a democracia tem no parlamento um poder necessário para legislar.
Muito do que bem: a democracia tem um preço. Sei que estamos pagando muito por ela, na roubalheira que se tornou um ato natural da nossa política, mas melhor com ela (democracia, não a roubalheira) que sem ela. Claro que quero a apuração e a condenação dos ladrões, mas isso deve se fazer dentro da democracia. E é no seu aperfeiçoamento que os ladrões são pegos e devem pagar por seus atos. E foi no aperfeiçoamento da democracia que um Demóstenes foi pego tomando banho de cachoeira. O nosso “moralista” de plantão era cria da ditadura (não esqueçamos que o DEM foi uma das denominações da antiga Arena, partido de sustentação dos militares) e na ditadura era possível exercer esse papel sem ser pego. Não se podia investigar nada. Os “acima de qualquer suspeita” nunca foram pegos.
O caso de nosso Eike, sempre ele, Batista, filho de um colaborador da ditadura que enriqueceu nas sombras dos anos de chumbo onde nada era investigado. Se hoje o filho pode comprar a metade do Brasil é porque herdou o começo de sua fortuna dos negócios escusos do pai. Se o pai se aliou à direita, o filho se alia ao PT, porque a ambição não tem ideologia. Os Marinhos fizeram a Rede Globo numa concessão “perpétua” por apoiar o governo militar e enriqueceram em negociatas na sombra da ditadura. O jornalista Emir Sader escreve sobre esse período: ”ferida que nunca cicatrizou, porque nunca foi tocada: empresas e empresários financiavam a tortura, a repressão desatada pela ditadura militar e enriqueceram durante todo esse período. Quem são? O que fizeram? Quanto ganharam? Foram anistiados também pelo decreto da ditadura militar?”
Eu tenho medo ainda hoje do medo de ontem onde não se podia falar. Hoje os ares democráticos me deixam xingar o ladrão. E atiçar a opinião pública para que a justiça acorde e se apresse em condenar essa canalha. Os corruptos tem saudade de ontem. Se acabar a democracia, melhor pra eles. Vão roubar à sombra dos fuzis.
Por isso me preocupa desmoralizar o congresso nacional como instituição. A democracia precisa dele. Os Demóstenes vão sendo desmascarados e justiçados num sábado de aleluia.
Outro dia circulou na internet uma mensagem indignada dos brasilienses, com a qual concordo. Dizia algo tipo assim: “Parem de falar mal de Brasília. Aqui não só tem ladrão. A maioria deles são vocês quem manda pra cá, de todo canto do Brasil, pelo voto. Aprendam a votar!”
Justa e sincera indignação. E o Piauí já começou fazer a sua parte. Vocês repararam que os piauienses cassaram o mandato de horripilantes figuras políticas conhecidas nacionalmente? Não reelegeram o ridículo e péssimo humorista Mão Santa, que tanto envergonhava nossa terra. Também tiraram o mandato do gordo e grotesco Heráclito Fortes, que palavras insensatas não lhe cabiam na boca. Acabaram com o governo do DEM, do poderoso ex-senador Hugo Napoleão, um americano naturalizado piauiense que enchia a capital federal de uma laia poderosa do séquito do governador bonitinho, mas ordinário, último representante dos coronéis piauienses.
Fizemos a nossa parte. Sigam-nos os que forem brasileiros. Ou como diria um de nós, quando meninos, indo mijar na moita, parodiando o Duque de Caxias: siga-me os que forem brasileiros.



    

Um comentário:

Letras e letteras disse...

concordo em todo o gênero, número e grau. tenho amigos em brasília e são todos honestos e nem todo político acompanha o modus operandi que decae à corrupção.
e a democracia é ainda a melhor conquista brasileira, em que saibamos escolher melhor os representantes, talvez tenha os dias melhores na políticanacional representativa