Geraldo Borges
Era um dia azul de sol, desses que iluminam, com nuvens de seda, o céu nordestino.
Eu vinha chegando à casa de um amigo juntamente com ele. Na entrada, ao transpormos o terraço vimos em cima do muro que cercava a casa, mais ou menos, no fundo da cozinha, um fileira de objetos de alumínios, panelas, caçarolas, copos, frigideiras, todos brilhando, limpos de gordura, de sujeira.
É que sua mulher acabara de areá-los. E colocara-os para secar em vez de se dar ao trabalho de enxugá-los com pano de prato feito de algodão. Os alumínios, além de sua utilidade no cotidiano estavam dando um espetáculo gratuito.
Notei, em meu amigo, um gesto levemente aborrecido quando deparou - se com os alumínios faiscando ao sol em cima do muro. Talvez não tivesse se tocado com a gratuidade do fenômeno que a sua mulher lhe apresentava. Quanto a mim, ao contrário, a luz dos alumínios me fascinou, os vi como se vê uma obra de arte. Um presente espontâneo que aparece quando menos se espera
Nunca me esqueci deste acontecimento, não só pela beleza que ele me proporcionou, como, também, pelo gesto aborrecido de meu amigo em constatar que sua mulher podia arear alumínios, se comportar como uma simples domestica. (ambos eram intelectuais)
Quanto a mim adorei o desprendimento de sua mulher, que, através do ato domestico, criou outra dimensão de beleza que estava ali em minha frente luzindo e reluzindo e criando prismas e sombras conforme o caminho do sol pelo céu azul daquela manhã nordestina.
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