domingo, 1 de abril de 2012

O filho de Odin

Edmar Oliveira
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Na mitologia nórdica, Thor é filho de Odin , o deus supremo de Asgard, com Jord, a deusa da mãe terra. É homem mais forte entre os homens e dispara relâmpagos com seu martelo mágico, que velozmente não errava o alvo e retornava às suas mãos. 

Na mitologia tupiniquim, Thor é filho de Eike, deus herdeiro da ditadura, com Luma, a deusa das passarelas e escolas de samba. É um homem bem invejado entre os mortais e dispara relâmpagos com seus carros importados, que não volta às suas mãos, mas são substituídos por outros, pelo pai, o rei do pré-sal e habitante das fortunas da revista Forbes. 

O martelo de nosso Thor, um Mercedes McLaren esportivo, atingiu a bicicleta de um simples mortal que atravessava o seu caminho na decida de Petrópolis. Interessante como, antes do resultado da perícia, a mídia dependente do deus Eike divulgou que tinha uma lata de cerveja presa ao pára-brisa do carro, certamente de propriedade da vítima e que esta estava embriagada (ainda por cima levando cervejas numa sacola para casa). O resultado da alcoolemia (o dobro do limite permitido) daria multa e perda da carteira. Ninguém se perguntou como a culpada vítima se equilibrava num veículo de duas rodas. E nem como uma bicicleta bêbada fez um estrago tão grande no carro do deus trovão.

Uma aeronave taxiando ou no começo da velocidade para uma decolagem, colidindo com uma ave não deixa marcas na fuselagem. Mas em velocidade de decolar, ou já no ar, o estrago é importante. O carro de Thor só pode ter atingido a bicicleta do bêbado em velocidade muito superior ao permitido. Para fazer aquele estrago no carro a bicicleta foi atingida a uma velocidade que não deu tempo ao possível desvio do motorista.  

E o bêbado morreu por uma martelada do deus trovão, sem tempo de saber que os deuses estavam contra ele, num cruzamento de pista sem sinalização de uma concessionária que nunca fez uma passarela ou passagem de nível para quem vai de um lado ou outro de Xerém. A família ainda insiste que o morto estava no acostamento, local onde o deus Thor já tinha atropelado um velho numa bicicleta na Barra da Tijuca.  

Tudo muito errado. O Mercedes McLaren e o Audi da Barra são carros esportivos, que na mão de jovens deuses podem virar uma arma mortal como o martelo de Thor. A culpa é de Odin...



  

2 comentários:

filipe com i disse...

donde concluímos que o banco de couro do carro dos ricos é de melhor qualidade: é couro de pobre! dá-lhe Edmar! abs
Filipe

Letras e letteras disse...

a mitologia e literatura da vida dos deuses, segundo a ciencia da análise do discurso, estão numa equiparação com mortais superiores, cheios de falhas morais bem maiores que as dos pobres de couro grosso. os arqueólogos e antropologos das vidas dos deuses mitológicos acreditam que, em algum momento, os heróicos reis teriam sido transformados em deuses, logo os deuses contemporâneos com seus martelos ou raios de velocidade são só homens, sujos, que olham os simples mortais de cima para baixo e que as "novas histórias orais" recontadas pelas novas midia e pela a industria mass media reafirmam o mito de deuses com pés de lama.