Esse é um disco que as mulheres não gostam. Pelo menos as mulheres que escutavam os discos do Chico. Para as meninas da internet o cd é bom, das antigas, mas é bom. O Chico se apaixonou por uma menina que ama o Chico. E por isso fez um disco de menino apaixonado. Thaís Gulin, numa entrevista, revelou que ouvia um Chico, entre dois sucessos do Balão Mágico, por absoluta imposição da mãe dela. A sogra atual é quem era apaixonada pelo Chico, ironia familiar. A sogra e todas as mulheres da idade da mamãe Gulin amam o Chico e seus olhos cor de ardósia. O ciúme delas é que esse olhar agora é para a Thaís.
Mas o disco (ainda é em formato redondo, por isso posso chamar assim) é bom, no patamar dos melhores Chicos. O show, então, é primoroso. O velho Chico é alçado ao pódio dos atuais artistas. Bom para o velho artista com cinquenta anos de palco (é um palquista bissexto, mas faz shows inesquecíveis). Bom aos 70 anos ser chamado de “gostoso” por meninas que poderiam ser suas netas. Aurora de um artista com jeito de alvorada.
Mas no disco, Aurora está em “Rubato”, parceria com Jorge Helder, onde não se sabe se a melodia mais bonita é a original ou a roubada para Amora ou Teodora. No palco Chico faz o compositor e o ladrão, confundidos no artista completo (todo artista é um ladrão).
Na primeira música abre as páginas de um diário de confidências, da possibilidade cristã de amar uma santa até conhecer uma paixão com orifício e a consequente crítica dos inimigos. Confissão sem culpa.
Inevitável as músicas da paixão, mas seguro de que se o amor for embora, o blues já valeu a pena em uma delas. Outra faz um dueto apaixonado com a amada, versos ternos onde o ridículo de um Lá-í-lá-rá não o é quando se ama.
Noutra aproveita para prestar uma homenagem aos cem anos do Gonzaga, mesmo ironizando o fato da amada ignorar o baião talvez, numa melodia em crescente dissonância que se desmancha num ritmado baião, digno de uma música do Lua. Homenagem posta. E bela.
“Sem você” fala de um amor ausente de quem já viveu muito uma paixão. Em “Sou Eu” a participação luxuosa de Wilson das Neves é fundamental. Barafunda exalta a mistura de Garrincha, Cartola e Mandela.
“Nina”, apesar de flertar com a modernidade, via internet, pode ser colocada no pódio das melhores canções do artista. ”Sinhá”, lembra o Chico dos dramas da política, jamais sem perder a ternura.
Um dos melhores disco do ano que começa, certamente.
Um comentário:
Adorei seu texto, uma analise feliz e pertinente sobre o autor e sua obra atual. Parabens..! Graça Sousa
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