domingo, 18 de março de 2012
Monsueto Menezes
Aderval Borges
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Durante esta semana passei todas as viagens de ida e voltaCampinas/SP ouvindo os sambas do Monsueto em sua própria voz, inclusive estecuja letra transcrevo a seguir (O Couro do Falecido). Maravilhoso. Aversão que tenho do samba é bem diferente da gravação que está no link. Elemantém só o bumbo como acompanhamento, dando um tom de ponto de umbanda e, portrás, o trio de vozes femininas que sempre o acompanhou. Figuríssima! Tinhavárias facetas criativas, como Grande Otelo que, além de ator/comediante/intérprete/cantor (principal parceiro de palco de Oscarito), era compositor e escreviaskeths cômicas para os shows do Cassino da Urca . Monsueto pesava 100 kg ecacetada. Antes de morrer, deixou uma recomendação aos amigos: nada de choro noseu velório. Queria, sim, muita alegria, samba e uma big feijoada para os queviessem ver seu corpo pela última vez. Seu desejo foi atendido e o velórioresultou em muita festa e bebedeira em torno do cadáver, bem apropriadas ao tombrincalhão desta homenagem ao cabrito, que tem moral antropofágica à la Oswaldde Andrade:
O couro do falecido
(de Jorge de Castro e Monsueto Menezes)
Um minuto de silêncio
Para o cabrito que morreu
Se hoje a gente samba
É que o couro ele nos deu
Castigue o couro do falecido
Bate o bumbo com vontade
Que a moçada quer sambar
Castigue o couro do falecido
Morre um para bem de outros
A verdade é essa, não se pode negar
Estee outros dois sambas de Monsueto podem ser ouvidos pelo link
http://receitadesamba.blogspot.com/2011/12/tres-sambas-de-monsueto-menezes.html
Monsueto por quem o conheceu
Beth Carvalho, Marlene, João Roberto Kelly, HaroldoCosta, Jorge Goulart e Toquinho lembram histórias do sambista
"Monsueto era um gozador, muito brincalhão, estavasempre sorrindo. Nunca o vi sério. Estava sempre muito alegre e fazendo músicasincríveis", atesta Marlene, uma das cantoras que mais lançou músicas deMonsueto, como Mora na Filosofia e O Lamento da Lavadeira."É uma pessoa que tenho muita saudade. Quando eu trabalhava no CopacabanaPalace, ele ia lá toda noite bater papo", continua a cantora que estavapreparada em 1954 para gravar o samba O Couro do Falecido mas acaboumudando de idéia. "A letra dizia: ‘Um minuto de silencio pro cabrito quemorreu/ Se hoje você samba/ É que o couro ele nos deu/ Castiga o couro dofalecido (...) Morre um para bem dos outros’. Só que nessa época o presidenteGetúlio Vargas se matou. A direção do Copa não deixou que eu cantasse, e ele medeu o Mora na Filosofia, que acabei gravando".
Assim como Marlene, vários de seus colegas artistas – cantores, compositores eprodutores – se lembram dele com muita gratidão. O cantor Jorge Goulart, porexemplo, acompanhou de perto sua escalada ao sucesso e lembra de seu bom humor."Ele formou um conjunto no mesmo estilo do que o Ataulfo Alves tinha,trabalhou muito em boates com Carlos Machado e chegou a viajar também pelomundo. Era um tipo engraçado. Quase um cômico. Era muito careteiro. Foi umgrande compositor, autêntico", depõe.
Além de compositor, Monsueto brilhou como ator cômico em filmes, shows devariedades e na televisão. Atuou no cinema trabalhando 14 filmes – onzebrasileiros, três argentinos e um italiano. Entre os nacionais, participou de TrezeCadeiras (de Franz Eichhorn), Na Corda Bamba (de EuridesRamos), O Cantor Milionário e Quem Roubou meu Samba (ambos deJosé Carlos Burle), mas não chegou ao final das filmagens de O Forte, em73, vindo a falecer. Integrou espetáculos bolados por Herivelto Martins, com oqual viajou para Europa, África e América, e até montar seu próprio grupo,sempre cercado de cabrochas e outros cantores. No palco, entre os anos 50 e 60,no auge de sua carreira como showman na TV, participou de diversos programascomo Noites Cariocas, na TV Rio, ganhando o apelido de Comandante porcausa de um dos esquetes que criou.
Beth Carvalho também se lembra de tê-lo visto muito na TV, mas não chegou aprivar com ele pois em 73, ano em que ele morreu, ela ainda estava gravando seusegundo LP. "Achava ele genial, impecável, um craque. Era um tremendocompositor, criativo. Cometi o pecado de nunca ter gravado suas músicas, mascom certeza ainda vou gravar", diz a sambista, cujo samba preferido do compositoré O Lamento da Lavadeira. "É originalíssima e de cunhosocial", atesta. Beth também riu muito com seus esquetes em programas deTV. "Ele era cômico, fazia umas blagues, tipo Mussum. Era o Mussum daépoca".
Quem também lembra muito bem dessa sua faceta humorística é o compositor JoãoRoberto Kelly. "Ele trabalhou na TV Rio na década de 60 e tive o prazer detê-lo em quadros musicados por mim, em programas como Praça Onze e ORiso É o Limite", conta. "Monsueto era histriônico. Não era dechegar e fazer um monólogo como ator, ele fazia um tipo com muita graça. Era umcrioulo de 1,80m, gordo, grandão com um sorriso maior que o tamanho dele, alémde um compositor inspiradíssimo", elogia. Além disso, Kelly diz que eraexcelente ritmista e baterista. "Ele tocava pandeiro, surdo, reco-reco,chegou a participar de várias gravações como músico de estúdio. Era cantor,ritmista e baterista bissexto. Além de pintor primitivista", completa. Defato, Monsueto começou sua carreira atuando em vários conjuntos na noitecarioca, como baterista. Inclusive na Orquestra de Copinha, no CopacabanaPalace.
Essa sua face de pintor (que se iniciou em 1965) também é lembrada pelo ator,diretor e produtor Haroldo Costa. "Era uma pessoa muito ativa. Além deformar conjuntos de samba e de atuar em grandes shows e quadros difíceis dehumor na TV, era um pintor naïve da melhor qualidade", atesta. Defato, além de tudo, Monsueto passou a pintar quadros no fim da vida. Depois deganhar de uma amiga um jogo de pincéis e telas, começou a pintar pordiletantismo. Curiosamente, deu certo. Eram todas na linha primitivista, comenfoque centrado no folclore, samba, morro e Carnaval – assim como as suascanções. Até o poeta chileno Pablo Neruda comprou um de seus quadros.
O artista que popularizou expressões como "Castiga", "Vou botarpra jambrar", "Diz", "Mora", "Ziriguidum"gravou muito pouco – um LP e algumas participações. Entrou pela última vez emestúdio para fazer uma participação na divertida A Tonga da Mironga doKabuletê, ao lado de Toquinho e Vinicius, em 1971, no qual "xingava emnagô" aqueles que naquela época dura não se podia xingar em português."Monsueto é um dos maiores sambistas brasileiros, com uma linha melódicafantástica, com intervalos africanos, na linha de Batatinha, Benjor e BadenPowell. Era um compositor bem primitivo, simples, mas importante. É ainda muitopouco reconhecido", elogia Toquinho que o convidou para participar dagravação da faixa. "Vivíamos uma fase de censura muito ativa e drástica.Tudo tinha que ser disfarçado. E a Tonga foi importante porque foi umaforma de mandar tudo para aquele lugar numa época em que não se podia fazerisso. Como o Monsueto era uma pessoa muito engraçada, eu e Vinicius o chamamospara fazer um fanho na faixa, que discursava e não dizia absolutamente nada!Falando coisas como se estivesse protestando. Foi muito divertido! Quase queninguém conseguia gravar porque todo mundo ria muito".
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