domingo, 23 de janeiro de 2011

Reconstruir a Tragédia




Edmar Oliveira



Todo verão, quando começam as águas que só terminam em março, a geografia do Rio, cercado por morros de pedra com uma pequena camada de terra, violentada por uma ocupação desordenada desmancha-se em enchentes, lama e tragédia. Cidades serranas, morros da costa verde, os morros do Rio e Niterói, ainda estão na nossa memória nas recentes tragédias do morro do Bumba, os deslizamentos de Agra dos Reis. Mas lembrem-se de Petrópolis há alguns anos, várias vezes desmanchada em lama e mortes. Tudo é esquecido numa tragédia maior.



Desta vez a região serrana desceu do morro em lama e lágrimas. A cidade de Friburgo foi apagada do mapa na violência das águas atingindo sua população sem preferência entre ricos e pobres. A praça símbolo da cidade sucumbiu à lama, deixando apenas a igrejinha de pé, testemunhando a hecatombe. Na vizinha Teresópolis até a casa de veraneio, onde Tom Jobim compôs “Águas de Março”, foi derrubada na força das águas de janeiro, “é pau, é pedra, é o fim do caminho”.



E tivemos as explicações de sempre, com direito a analistas falando nas ocupações desordenadas, onde ninguém é culpado, até a interpretações filosóficas da relação entre homem e natureza. Todos os dramas e sofrimentos foram resumidos na imagem dorida de uma senhora que enterrava a filha, o neto, o bisneto. Ela era a imagem viva da morte de toda sua descendência na face da terra. E fiquei imaginando que algumas autoridades e seus antecessores, de várias gerações políticas passadas, deviam ser responsabilizadas criminalmente pela ausência dessas gerações futuras.



O prefeito da pequena Areal, antenado com a tromba d’água numa cidade vizinha, rio acima a quarenta quilômetros, colocou um carro de som nas margens do rio avisando que já chegaria uma enchente. Salvou muita gente e merecia um prêmio. Será esquecido e já nem me lembro seu nome e partido.



Mas Friburgo será reconstruída. E na teimosia das irresponsabilidades administrativas, até com sua ocupação desordenada novamente, reconstruindo uma nova tragédia.

2 comentários:

BEBETO disse...

O problema é nacional e cultural. e a única forma de resolver é com educação, mas devido a nossa expanção demográfica, que podemos char de continente, fica cada vez mais difício de resolução. por isso amigo é que a palavra esperança fica cada vez mais distante, e a única frase que combina con a nossa nação é:
SALVE-SE QUEM PODER. rOBERTO aRAUJO nordestino carioca

LOUCA PELA VIDA disse...

Muito lúcido... o ser humano capitalista tem uma relação irracional com a natureza, quer domá-la sempre para seu prazer e seu lucro. É aquela coisa de aterrar uma lagoa porque fica num lugar bonito, lotear, fazer belas casas. Mas a vocação do lugar alagadiço, de nascentes continua lá e um dia se rebela e dar o troco.