domingo, 9 de janeiro de 2011

crise de abstinência

*Falo do alto e dos baixos de minha descrença, *
*falo como solista que sou de mim e de minhas idiosincrasias, *
*contestadas ideias&sôfregos refúgios, *
*vejo, do meu congá de blasfêmias,*
*no anonimato desse texto, um sinal de transubstanciação, *
*há mistérios nesse português indefinido e de pungente definição; *
*vejo nele a insubordinada pena de Lima Barreto, *
*vejo broquéis de Cruz e Souza, *
*vejo as transfigurações de Salgado Maranhão, *
*nos olhares de Manet e Di Cavalcanti, *
*que intercalam o libelo acusatório e dolorido *
*com a plástica da natureza e das gentes divinizadas...*
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*Perdida a tangência dos sonhos, *
*resta-me um ódio estéril, *
*invento a dinâmica da inércia, *
*dói-me uma civilização transformada em um monumental Haiti, *
*dói-me a insensatez dos fortes, *
*o eurocentrismo vasculhando cada palmo de terra:*
*negros nas galés, índios nas adagas*
*E um Deus cúmplice, *
*invocado por Santa Teresa D'Ávila,*
*enquanto seus irmãos consanguíneos saqueavam, estupravam e matavam*
*e ela, santa, levitava...*
*como uma confirmação divina dos acertos da Coroa.*
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*Estou no bloco do eu-sozinho, *
*tento bastar-me,*
*vivo de minha punheta existencial. *
*Surge, então, do fundo do copo, *
*a voz consoladora, moradora de uma quinta ornada de quintanares.*
*Mas é só uma sombra.*
*Sequestraram meu conhaque*
*e os europeus que o destilaram*
*me mandam via sedex*
*super doses de naltrexona*.



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simao jorge-curuca
(num dia de crise de abstinência)

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