Na antiga Teresina, esperava ansioso a chegada do “Correio da Manhã”, que só chegava à tardinha na Praça Pedro II. Jornal do “Sul Maravilha”, ditava os acontecimentos nacionais e internacionais e rendia os papos com cerveja no velho Bar Carnaúba. Os jornais da terra só falavam das futricas locais nas colunas do Mauro Júnior e Elvira Raulino. Não traziam as notícias que eu queria saber. O “Correio” não. Jornal parrudo e discordante da ditadura de antanho (tanto que terminou fechado pelos milicos de merda), nos informava dos rumos e prumos do planeta. Tinha o jornal azul da “Última Hora” que nos alimentava da Geléia Geral do poeta triste. E tinha os alinhados da ditadura, “O Globo” dos Marinhos e o “Estadão” dos Mesquitas. A gente até podia escolher a versão ideológica das notícias que ia ler. Me lembro do Alberoni Lemos (ou era o Evandro?) que fazia questão de ler as notícias oficiais militares n’O Globo. Mas jornal tinha serventia. Vendia notícia, opinião, cultura e informação. E esses artigos, na Teresina do passado, eram como o pão com garapa do Caçula. Enchia o bucho da alma...
Eu não sei se as notícias estão acabando ou os jornais. E eu, viciado no jornal de papel, fico meio perdido. As notícias foram para a telinha que antecipava o jornal e agora na Internet saem em tempo real, deixando os assuntos no jornal de papel com gosto de ontem. Mas aí eu não sei se a crise é só do jornal. Parece que nessa modernidade pós não há novidades. Tudo duma mesmice só. Até os escândalos são antigos: Sarney, Renan e Collor já fazem essas merdas há vinte anos e se requenta a janta que foi comida no almoço. O golpe dos militares em Honduras é coisa do século passado, não tem a menor importância, não fede nem cheira no mundo de hoje. A ditadura de Chaves é arremedada de democracia. O Lula faz um bom governo às custas de desmoralizar a esquerda no poder e se tornar isômero dos direitistas de ontem. O Obama faz do nosso antigo opressor um governo simpático que toma cerveja com o conflito. O comunismo chinês é campeão do crescimento capitalista no mundo. A civilização européia não suporta os imigrantes e a esquerda usa o discurso da direita. Nem sei pra que lado vai o mundo...
Só sei que vou tomar minha cerveja pra encarar o que já não entendo. O mundo ruma para uma mesma Geléia Geral do poeta triste. E nela não há notícias que se possa entender. E os jornais de papel estão acabando... Não me segue nesse Twitter que eu não sou novela!
Um comentário:
Perfeito! Que zona isso tudo! Eu não estou entendo mais nada, não me perguntem mais nada, jogaram merda no meu ventilador e os meus heróis morreram de overdose. Mas não largo o jornal de papel, é uma relação de amor. Cedo vou à padaria comprar pão e lá está ele, em cima do balcão, primeiro olho de rabo de olho, como quem não quer nada, afinal tenho acesso a internet e logo vou saber de tudo pela telinha. Mas ele é sedutor demais para me deixar ir embora sem levá-lo comigo. Eu não resisto, e vou andando quase parando lendo curiosa todas as notícias de ontem como se fossem novas, mas leio, louca para chegar em casa e mergulhar em suas páginas, pobres e barulhentas páginas com cheiro de papel velho, tudo isso me fascinam, sinto falta só daquele pretume que ficava nas mãos, mas o velho jornal ainda embala as minhas manhãs de café com pão e manteiga.
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