Na minha cidade existe uma oficina de um japonês especializada em consertar maquina de datilografia. Passei por lá cinco anos atrás e pensei que ela fosse falir. Como tenho uma velha máquina Olivette lettera 22 levei-a a sua oficina para que ele fizesse uma limpeza e ajustasse as teclas, os tipos, lubrificasse, mudasse a fita. Deixando-a no ponto para que eu pudesse escrever as minhas crônicas. Fez o orçamento, disse o preço. Tudo bem. Pode fazer o serviço.
Uma semana depois ele me telefonou para receber a máquina Estava boa, funcionando..
Alguns anos depois tive de retornar lá. Fiquei pensando. Será se ainda se encontra no mesmo lugar? Saí de casa com minha máquina correndo o risco de não encontrar mais o velho japonês, que tem mais de setenta anos e pinta o cabelo, e até parece jovem. Passei na porta do antigo endereço que eu tinha e para surpresa minha lá estava o japonês ainda instalado no mesmo local. Atendeu-me solicito, com o sorriso de japonês. Eu mostrei-lhe a velha máquina que já conhecia, e disse-lhe que precisava novamente de uma limpeza.
Enquanto fazia o orçamento fiquei olhando sua oficina e vi que,em sua loja,ele vendia alguns artigos de papelaria, que, sem duvida, ajudavam em sua receita doméstica. Falou-me que outras pessoas apareciam ali para mandar consertar maquinas de datilografia. Isto me fez lembrar um ex vizinho, que morava em Teresina, e que também consertava máquinas de datilografia , com este serviço sustentava a sua família. Apareceu o computador, não sei como ele se virou.. Talvez tenha estudado informática. Lembrei me, também, de um velho amigo, já falecido, que tinha tudo a ver com maquina de datilografia, o jornalista Jarí Mosil. Antes de dizer adeus ao mundo me falou que estava escrevendo um livro com o titulo - Adeus as pretinhas. Pedi que me explicasse o titulo. Disse que estava escrevendo a história das maquinas de escrever nas redações dos jornais no Piauí, e sua substituição pelos computadores.
Tenho duas maquinas: uma Olivette e a outra baby. Estou mais acostumado com a Olivette. Enquanto o japonês existir e tiver condições de ajustá-la eu vou me valendo com elas no meu oficio de escritor. Na verdade, o meu primeiro instrumento, que usei para escrever foi o lápis, que nunca abandonei. Com o lápis faço o rascunho. Depois passo o manuscrito para a máquina, vou acrescentando ou tirando alguma coisa. Geralmente tiro mais do que acrescento, se bem que gosto de uma redundância.
De modo que elaboro o meu texto em três etapas. Primo a lápis, depois a máquina, e, por fim, o computador. Sou um ginasta triatlo. Quem disse que um escritor não é um atleta? Embora nem sempre tenha a mente sã e o corpo sarado. Alguém poderá dizer que isto é perda de tempo. Perda de tempo é conversa fiada. Prefiro continuar com as três modalidades. Cada qual colabora uma com a outra. No manuscrito sinto a textura do papel branco, a nitidez do grafite, a atenção para pingar os is e cortar os tês, não esquecer as cedilhas, caprichar na caligrafia, que também é uma arte, sinto-me como se fosse um pintor me lambuzando com as tintas. Teclando nas pretinhas ouço a sonoridade que relembra as velhas redações onde o meu amigo Alberone Lemos educou-se como jornalista. E no computador, como não estou ainda bem acostumado, fica para depois a avaliação da minha experiência, o que posso acrescentar é que os seus recursos são infinitos, e, às vezes, se mete onde não é chamado. Em certos casos tem a petulância de pensar primeiro do que eu e se adiantar corrigindo o meu texto.
Por enquanto prefiro continuar com o meu método triunvirato, escrevendo devagar, sem muita afobação, para um leitor apressado, que por isso mesmo talvez não consiga enxergar as entrelinhas do texto com suas costuras. Rezo para que o japonês continue no seu endereço com sua oficina por mais tempo, atendendo os dinossauros da era moderna, assim enquanto mais eu demorar dizer adeus as pretinhas melhor.
2 comentários:
Olá, estou querendo retornar ao uso de minha antiga máquina Remington. Precisa de uma boa limpeza e fita. Onde posso encontrar seu técnico, Gto
rogeriofarah@gmail.com
Olá
Sou sobrinha do Jarimosil,gostei muito do seu post.Tizé(como todos os sobrinhos o chamam)era adepto da tecnologia nos últimos dias da vida e não me lembro de ter visto alguma máquina em sua casa mas devia ter no trabalho e com certeza deve ter usado.Abraços.Lília Amorim
Postar um comentário