Edmar Oliveira
Não tenho qualquer dúvida da chegada da velhice. Turrão sempre fui. Fiquei ranheta, reclamante de tudo. E peço desculpa às pessoas de minha relação, já que tem horas que nem eu me aguento. Mas a maior prova das “despesas do envelhecer” (expressão sincera de H. Dobal e usada como título de livro de Cinéas Santos) é começar a ficar intolerante com o carnaval.
Em criança, na velha Codó das minhas lendas, gostava dos bailes do Clube Guarapari, e até hoje minha memória ressoa: “No Guarapari / Eu vou brincar só / É um grande clube / No coração de Codó”. O “Fofão” do Maranhão era o “Clóvis” do subúrbio carioca. Noutro carnaval encontrei um bando de “Clovis” em Guaratiba e achei que tinha voltado à meninice de minha Codó. Na Teresina o carnaval do “Corço” com o caminhão das “raparigas” me é inesquecível, assim como os blocos de rua desfilando na Frei Serafim. Também a Avenida (como a chamávamos no singular) era o palco das escolas de samba. Inesquecível o samba da “Escravos do Samba”: “O Escravo vai mostrar o seu valor / Ôôô / Que preto pode ser doutor”. E a marcha do C2H6O (bloco de rua com a fórmula química da cachaça)? “Nós somos de boa raça / Viemos a Terra acabar com a cachaça / Não, não tem jeito não / Se não tiver garrafa / Traga mesmo o garrafão / Vem, bota álcool no copo / Nós somos do C2H6O.” Tudo isso é de quando eu gostava de carnaval...
Já não gosto mais. Fora os blocos de rua do subúrbio, os “Clovis” de Guaratiba, as bandas do centro da cidade, que nos ocupam as tardes, na noite não acho mais graça e até me entristece. As Escolas de Samba viraram um espetáculo pirotécnico, do qual não acho a menor graça. Os sambas-enredos, rompendo com a tradição deliciosa de antigamente, ficaram todos iguais na batida e na exaltação sem muita relação com o tema proposto. Como o reveillon de Copacabana, também nunca fui a um desfile na Sapucaí, nem tenho vontade de ir. Na velhice prefiro me lembrar da Frei Serafim, do Beco do Prazer, da Nicinha, sempre enfeitada em seu carnaval. Meninos, a gente envelhece quando passa a não ver mais graça no que gostávamos e a memória passa a nos acompanhar com mais frequência...
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