quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Cabeça do Tempo

Edmar Oliveira


Único pedacinho da Mata Atlântica do lado de cá do Parnaíba. Ainda assim, setenta e oito mil hectares de floresta prenhe em fauna guardada da extinção, cujos representantes se fazem na bela onça-pintada e no esquisito tatu-canastra. Parece um pedaço de tempo perdido de quando éramos meninos e tínhamos medo de onça na mata, que nunca mais se viu. Mas a onça da nossa imaginação pode ainda ser encontrada perto do Morro Cabeça do Tempo, nome de um município da região mágica da Serra Vermelha. E é da Cabeça do Tempo que eu quero falar.


Estado pobre e esquecido, por sorte tinham esquecido também de nos explorar. Mas eis que chegou o progresso no meio da mata virgem. Primeiro o carvão vegetal. A ganância entrou mata adentro derrubando sapucaias e pequizeiros, imburanas e juazeiros. Com o fogo também se explorava a colméia das abelhas na força burra de mais destruição que mel. Mas o carvão endinheirava o grileiro e abatia pedaços de mata que não mais se refaz na cabeça desse tempo em que estamos perdendo o planeta pela exploração desenfreada, sem paralelo na história da civilização.


Os homens que pensam o progresso são inquietos no pensar em tirar da natureza bruta algum benefício imediato ao bem-estar da humanidade (sic). A luta dos ambientalistas, na contenção da tentativa gananciosa de transformar toda a Serra Vermelha em carvão, foi necessária para se pensar ali um parque de preservação ambiental. Mas os homens do progresso querem o parque convivendo com uma termoelétrica, para continuar produzindo energia burra da queima da floresta. Em nome do progresso geram-se empregos e juntam-se os fornos descontrolados mata adentro na usina sob controle (dizem). Não creio nesta tese do governo de esquerda do meu pobre Estado. Ele fica muito mais rico se a Serra Vermelha for deixada em paz, ainda bruta em natureza, necessária também para preservação da raça humana. Que precisa saber da existência da grande onça-pintada e do tatu-canastra, para que esses seres já muito raros, que conviveram com nossos antepassados, não sejam extintos da nossa imaginação. É para a sobrevivência da cabeça do nosso tempo que precisamos pensar na preservação da Serra Vermelha...



sequência de fotos: onça pintada, imaginemos uma termoelétrica no sertão, serra vermelha. Ver SOS Serra Vermelha

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