quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O fim da Democracia



Edmar Oliveira

Os americanos sempre quiseram vender ao mundo a sua democracia. Ideal de um regime político, onde a liberdade dificultava a igualdade. Mas todos os cidadãos são livres para o empreendimento democrático, onde qualquer um pode ser desigual da maioria. O detentor dos meios de produção pode ser qualquer um, que as oportunidades são iguais, destacado da massa dos que são os vendedores da mão-de-obra (e hoje, com o avanço tecnológico, alguns vendem a cabeça-de-obra). Não se diz que não tem lugar pra todo mundo na primeira fila. Mas os que não chegaram lá não conseguiram por deficiência pessoal, já que a oportunidade estava ao alcance de todos. A marca do individualismo, nesse regime, está estampada nos objetivos do sistema.



Muito de nós sonhou com a utopia da igualdade. Da fraternidade socialista, segundo a qual a cada um pertence o seu necessário. A quantidade do que produzo em excesso, por maior capacidade, é coletivizada, sendo o Estado tutor dos cidadãos iguais. O problema é convencer a natureza humana dessa fraternidade ideológica. Portanto, os regimes que ensaiaram a fábula da igualdade tiveram que cercear a liberdade. Os três ideais da Grande Revolução francesa nunca puderam ficar juntos. Liberdade provoca um laço fraterno sem a igualdade. Igualdade obriga uma fraternidade sem liberdade. A natureza humana não pode combinar estes três ideais da utopia burguesa inicial.



Rousseau, o inventor desse princípio assimétrico, melhor define a condição humana numa frase determinista: "O homem nasce livre, porém em todos lados está acorrentado". Quando a nossa corrente era a ditadura, ensaiamos a luta armada como libertária. A derrota de Guevara era inevitável como a dos filhos da pátria. Tivemos que colocar a democracia no horizonte das utopias para nos livrar das correntes da opressão.Ela veio. Ensaiou vôos assimétricos. Ainda não era plena com Sarney, Collor e o professor da Suborne conduziu o Consenso de Washington para nos fazer entrar no neoliberalismo. Ganhamos com Lula para descobrir que pouco se pode fazer numa real mudança. E que estamos presos aos grilhões neoliberais. E que a democracia nos acorrenta agora, impedindo a mudança das leis do capitalismo. Como sempre quiseram os americanos.



A democracia como um fim é o seu próprio fim. Não importa tanto a mudança dos governos. A marcha inexorável do sistema nos coloca no mesmo lugar. Para a democracia não se precisa do voto obrigatório. Quando a esperança pode ser um negão vamos todos às urnas. Sem o contágio, vota quem quer, que é quase tudo a mesma coisa...


_______________


publicado originalmente na Casa Lima Barreto. Desenho: Mafalda de Quino.

Nenhum comentário: