quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Peraltagem







Manoel de Barros

O canto distante da sariema encompridava a tarde.
E porque a tarde ficasse mais comprida a gente sumia dentro dela.
E quando o grito da mãe nos alcançava a gente já estava do outro lado do rio.
O pai nos chamou pelo berrante.
Na volta fomos encostando pelas paredes da casa pé ante pé.
Com receio de um carão do pai.
Logo a tosse do avô acordou o silêncio da casa.
Mas não apanhamos nem.
E nem levamos carão nem.
A mãe só falou que eu iria viver leso fazendo só essas coisas.
O pai completou: ele precisava ver outras coisas além de ficar ouvindo só o canto dos pássaros.
E a mãe disse mais: esse menino vai passar a vida enfiando água no espeto!
Foi quase.
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(Memórias inventadas – Terceira infância – Ed. Planeta)



mandado por Cinéas na sua cruzada semanal: "Da Necessidade da Poesia", o que é uma bênção para quem está no seu correio eletrônico. Essa garimpada divido com vocês.

Desenho de Karmo subitraido de Cardápio do Macarrão

Um comentário:

Anônimo disse...

Certamente, um dos meus preferidos poetas...