quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A Lambreta, a Coca-Cola e a Rede Globo


1000TON

Nos confins desse amado pindorama, um soldadim com cara de curumim, verde-oliva fardadinho, colarinho roto, assim como o resto do seu uniforme, tocava na sua desafinada e enferrujada cornetinha o toque de recolher bandeira, ao fundo um tingindo-tingindo avermelhadaço de brasil-entardecer.
Essa imagem, das mais partidoras de coração meu, eu presenciei, emoldurada por uma das janelas do 5° BEC - Batalhão de Engenharia e Construção, quando trabalhava na Rede Ferroviária Federal (onde permaneci por quase 20 anos), contratado como arquiteto, atuando na área de Patrimônio.
Uma das minhas missões, foi complementar o inventário da já extinta Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. A minha base de operações estava localizada em Porto Velho, Rondônia, o citado Batalhão dava apoio ao nosso trabalho, juntamente com a Prefeitura Municipal de Rondônia.
Diante daquela cena chorei borbotões de nacionalismo involuntário, que brotava feito manancial do meu peito, mais brasil-varonil que nunca!...
Arrependi-me, até, por um breve momento, de ter entoado, nalgum dia da minha pré-juventude, a famosa paródia da “canção do soldado”:
“Nós somos da pátria a guarda/ fiéis soldados por ela amados/ o lema da nossa escola/ é a lambreta e a coca-cola !”....................
Madeira- Mamoré: “cada dormente da velha estrada de ferro representa uma vida perdida na sua construção”, ainda vozes soam, contando a odisséia dos trabalhadores mortos em combate, não só contra as intempéries da monstruosa floresta amazônica, como principalmente no enfrentamento dos mosquitos transmissores da mortífera malária.
Falando em morte, agora, bem perto da data de lembrança funesta do AI-5, vêm novamente à minha cabeça as cenas da ditadura assassina, que torturou e levou pro além muitas brasileiras almas.
Gostaria de me lembrar do glorioso exército brasileiro, através da imagem daquele soldadinho verde-oliva, segurando carinhosamente a nossa bandeira e soprando a sua cornetinha, suando as cores quentes dum entardecer equatorial.
Ele, um brasileiro legítimo, de olhinho rasgado, cor de pau-brasil, anônimo e ingênuo personagem da nossa história, símbolo do nosso povo, irmão-de-sangue-índio, dizimado sem perdão e sem pecado (será que ele não existe mesmo, do lado de baixo do equador?), por todos os impiedosos colonizadores, de ontem e de hoje.
Gostaria também de me lembrar do nosso exército, contemplando a imagem do Marechal Rondon, defensor dos nossos irmãos, que emprestou o seu nome a Rondônia, servir e não ser servido, morrer se preciso for, matar nunca!
Mas as Organizações Globo não me deixam...
Quando ouço a tonitroante sonora abertura do Jornal Nacional, me invadindo por toda a vizinhança, eu fico esquizofrenicamente impregnado pelo visgo pegajoso do conluio escroto da Globo com a Redentora.
Colonizadora e Colonizada, que foi, e ainda o é, ao invés de prestar os devidos esclarecimentos históricos nas matérias sobre o AI-5, principalmente no que tange ao seu próprio colaboracionismo, a Globo evitou mirar-se num espelho, para não se deparar com sua verdadeira, decrépita e horripilante imagem, muito assemelhada ao patife-mor-roberto-marinho, preferindo, sorrateiramente, esconder-se envolta numa mortalha fétida banhada de sangue.

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(EM SOLIDARIEDADE À MATÉRIA DO EDMAR, PUBLICADA NO PIAUINAUTA ANTERIOR)


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