Edmar Oliveira
Nunca entendi o gênero de pintura conhecido como Natureza Morta. As frutas, os vegetais, os legumes desses quadros, para mim, sempre me pareceram composições muito vivas. A definição escolástica pressupõe pinturas de objetos inanimados. Mas as fruteiras, os jarros estão sempre cheios de representantes do reino vegetal, de inquestionável vigor vital e animado. Como propõe uma moda de dieta atual. Dieta viva: vegetais sem cozimento, frescos, da feira à mesa. Não sei se vai fazer alguém mais magro, mas que é uma dieta viva, isso lá é verdade.
Portanto, voltando às naturezas das pinturas, nunca as considerei mortas. Monet pintou um quadro, concordando com a tese aqui defendida, que chamou de "Natureza morta com Melões". Era que os melões fatiados, tão apetitosos, se destacavam dos outros vegetais, de muito vivos que estavam! Dali, subvertendo a ordem das coisas – seu passatempo surreal – pinta o famoso quadro "Natureza-morta Viva", onde os objetos inanimados (pratos, facas, garrafa de vinho) junto com as frutas estão em movimento intenso sobre a mesa, enquanto um beija-flor – parado no vôo – fica inerte sobre um oceano estático. Coisa do Salvador Dali!
Mas foi divagando no oceano que fui encontrar a verdadeira Natureza Morta. Leio que o Ártico, pela primeira vez na história, derreteu completamente sua calota polar, tornando-se navegável. Os jornais noticiam que a camada de gelo que cobria o Ártico se encolheu pela metade. No oceano, que antigamente era um continente sólido de gelo, hoje flutuam pequenos icebergs numa fotografia denunciando o aquecimento global – verdadeira Natureza Morta.
A foto me conduz ao meu copo de uísque onde flutuam pedrinhas de gelo. Coloco outras pedras e mais uma dose para pensar que esta Natureza Morta pode fazer o aquecimento global matar os vegetais e os animais do planeta...
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