Júlio César Régis Dantas, o Julinho, foi um astronauta sergipano que ficou em órbita de uma terra tomada pelos desatinos das ditaduras que assombraram esta América Latina. Da escotilha da nave mãe contemplávamos Aracajú e Teresina fazendo planos que não se realizaram. Algumas vezes brindávamos efusivamente em comemoração a nossa vocação de astronauta.
No dia 26 de dezembro, após o nascimento de Cristo, a nave de Julinho deixou de fazer contato com a terra. E nem nós, os astronautas, conseguimos localiza-lo. Julinho deve ter passado para outra dimensão ao se aproximar de um buraco negro.
No sítio da Associação Brasileira de Imprensa achamos esta nota escrita por seu amigo, Anselmo Góis, que reproduzimos abaixo:
Em texto especial para o Site da ABI, o jornalista Ancelmo Góis evocou com emoção e carinho seu amigo Júlio César Régis Dantas, o Julinho, seu companheiro desde as lutas da mocidade em Sergipe. Julinho morreu em 26 de dezembro, aos 58 anos. O texto de Ancelmo, intitulado "Julinho partiu", é o seguinte:
"O ano de 1968, aquele que não terminou na definição de mestre Zuenir Ventura, foi marcado por manifestações estudantis em todo o mundo. Na pequena Aracaju não foi diferente. Lá, os estudantes saíram às ruas, mais de uma vez, caminhando, cantando e lutando contra o regime militar. Em Sergipe, a luta dos estudantes era liderada pelo pessoal do Diretório da Faculdade de Direito da UFS, tendo à frente Wellington Mangueira Marques, o "Boquinha". Em torno dele e do PCB se formou um grupo de jovens combatentes contra a ditadura, entre eles Júlio César Régis Dantas, aluno da Faculdade de Serviço Social.
Julinho, depois do Ato Institucional n° 5, que sufocou os protestos que vinham das ruas, partiu clandestinamente para Moscou, em pleno regime soviético, onde, por um ano, fez um curso de formação política marxista na escola do Komsomol. Nos anos 70, já no Rio, participou da luta pela retomada do Sindicato dos Jornalistas — que estava em poder de pelegos — e atuou na ABI num momento particularmente histórico da entidade, na linha de frente pela redemocratização do País. Nos anos 80 Julinho se aliou ao Partido Democrático Trabalhista (PDT) e ajudou a lançar o jornal brizolista "Tribuna Socialista". Trabalhou como repórter nos jornais O Globo, Tribuna da Imprensa, Jornal do Commercio e Diário do Comércio e Indústria. Trabalhou ainda na assessoria de imprensa da Bolsa de Valores e da Prefeitura do Rio. Julinho, 58 anos, morreu dia 26 de dezembro, vítima de choque séptico no Hospital da Ordem do Carmo, no Rio. Deixa a viúva, Esther, dois filhos e muita saudades nos que o conheceram."
Um comentário:
Justa homenagem. Zé cúfaro e os bombeiros de Aracajú. Essa e tantas outras.......
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