terça-feira, 1 de janeiro de 2008

PRODUTO INTERNO BURRO

Edmar Oliveira


Nas pajelanças econômicas de final de ano, que sempre são acompanhadas de previsões de pais de santo para o próximo ano, acaba de ser divulgado o campeonato de Produto Interno Bruto (PIB) por cidade. Já sem ser novidade, São Paulo ocupa, como sempre, o primeiro lugar com um PIB de mais de 260 bilhões, superior ao do Chile, país. O último lugar na colocação muda de cidade, mas não de Estado. Novamente o Piauí aparece com Santo Antônio dos Milagres substituindo Guaribas. Como sou um curioso, descubro que este milagre de Santo Antônio aconteceu de um desdobramento do município de São Gonçalo do Piauí em 1995. E que fica perto de Angical e Regeneração, pertencendo então à região metropolitana da Grande Palmeirais, cidade que me colocou no mundo. E aí tudo muda de figura. Não conhecendo a cidade nova do milagre do santo, me obrigo a ser palpiteiro pela proximidade sentimental e, talvez, de parentesco.


E já que Santo Antônio foi parar nas páginas de economia dos jornais do sul maravilha, vamos aproveitar este momento de glória, para entender o que é ser a cidade mais pobre do país.

Todas as somas dos bens produzidos pelo milagre de Santo Antônio não compram uma casa nos Jardins Paulista ou num condomínio da Barra da Tijuca. Tudo que há no município de Santo Antônio não chega à quantia de três milhões de reais. Como o município tem duas mil almas, cada criatura tem um patrimônio, economicamente falando, de mil e quinhentos reais. Se estes números são assustadores, imagine para quem conhece a realidade do interior do Piauí. Eu não conheço Santo Antônio, mas há alguns anos estive em Palmeirais. Se esta, relativamente, é uma cidade de melhor qualidade de vida posso imaginar o que seja o milagre do santo. E qual o interesse de se fazer um município num lugarejo de dois mil habitantes. E duvido que se ache entre os munícipes mais de cinqüenta famílias que tenha bens da média do PIB per capta pra cima. Não é difícil entender que parte do PIB foi embora, apropriado por quem manda no município. E que parte deste produto interno ficou líquido noutras paragens. E quem ficou vivendo ali no sertão tem o seu produto interno evaporando na terra seca para a liquidez de poucos.

Vamos examinar o milagre do santo econômico: se existem duas galinhas pra nós dois, temos uma galinha per capta. Nem que você fique com as duas galinhas e eu sem nenhuma. Você fica com o Produto Interno Bruto e eu com o Produto Interno Burro. Tendo a achar que este último é o PIB dos meus conterrâneos. O que é muito pior do que o jornal anuncia. As previsões dos adivinhos de fim de ano fazem menos mal que a economia...

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