terça-feira, 1 de janeiro de 2008

IMAGENS DO PRECONCEITO

Edmar Oliveira

Notícia pavorosa do canto de sereia científico da pós-modernidade do século XXI: cientistas gaúchos vão submeter delinqüentes juvenis a um mapeamento cerebral para correlacionar condutas anti-sociais as neuroimagens. Mas esta idéia não é tão nova como faz crer o alienista contemporâneo.

No século XIX, Cesare Lombroso conduziu estudos “científicos” para caracterizar o que ele chamava de “criminoso nato”. Como os instrumentos científicos de então ainda não permitiam o mapeamento interior, Lombroso descreve características somáticas para antever indivíduos com propensão ao crime. Assim, as características físicas da pessoa, geralmente não muito bem apresentável para os padrões de estética da época, denunciavam o criminoso em potencial. Interessante é que, dentre as medidas profiláticas para conter a delinqüência, receitava reeducação, iluminação pública e policiamento ostensivo. Como as características físicas descritas por Lombroso incidiam nas classes menos favorecidas, teorias “científicas” como a degenerescência orgânica justificava a não ascensão destes indivíduos na escala social.

O conhecimento acumulado na modernidade ofereceu pistas de que o homem não vem pronto ao mundo, mas tem no seu desenvolvimento a constituição de se fazer igual e diferente a todos os outros. Portanto, precisamos do século XX para desacreditar o alienista extemporâneo do século anterior, que sobreviveu com as teorias eugênicas até ser derrotado na Segunda Guerra. Mas, por que o alienista contemporâneo ressuscita o extemporâneo?

Não divido com Lombroso sua crença no Espiritismo, portanto vou afastar a reencarnação. Apesar de que Cesare fez estudos “científicos” sobre a mediunidade e a doutrina espírita, talvez preparando a sua volta em tempos pós-modernos. Mas isto é lá crença dele, não minha. Não vou entrar nesta discussão, apesar da similitude dos métodos: antes, mapeava-se o exterior para correlacionar com o tipo de delinqüência. Hoje, a ciência pós-moderna mapeia imagens cerebrais com o mesmo objetivo. Santa Barbaridade!, como diria aquele super-herói adolescente que usava máscara de baile de carnaval. Isto é que é revirar os estudos de Lombroso pelo avesso. As neuroimagens cerebrais são lidas como antes se liam caroços e protuberâncias no corpo da vítima para correlacionar com o grau ou tipo de delinqüência.

O alienista contemporâneo repete o extemporâneo numa concepção darwinista-lombrosiana apressada. De que a evolução acontece moldada por padrões de comportamento governados por preceitos morais. E que estes desvios de conduta devem ter uma inscrição que os justifiquem. Antes, na deformação aparente. Agora, escondidos em impulsos físico-químicos captados pela neuroimagem cerebral.

Desconfio que esta pesquisa atual no Rio Grande teria o mesmo valor de correlacionar neuroimagens com o comportamento sexual dos gaúchos, ou com a vocação de nós nordestinos, que somos predestinados a ser porteiro de prédio ou servente de obra. Ou seja, penso que quaisquer imagens, mapeadas por geringonças tecnológicas, associadas a fatores de compreensão no campo das ciências humanas revelam apenas a imagem do preconceito.

Um comentário:

JUPIRA LUCAS disse...

Gostaria de fazer uma especie de "chamamento" para que as Stas. ELIANE CAMPOS SOUSA E MARIA IZILDA CAMPOS da empresa Jusem localizada na Rua General Osório, 1212- 10 andar- Centro- Campinas- SP se retratem junto a JUPIRA LUCAS ZUCCHETTI. Esse pedido de retratação vem sendo feito a mais de 2 anos. Porém, nos contatos via email que faço, sou ignorada como pessoa e profissional. E no contato pessoal, fui tratada com ironia.