domingo, 20 de setembro de 2015

TRISTERESINA de novo:


O belo Passeio hoje



“TERESINA APAGOU-SE NA DISTÂNCIA”
(verso de Lucídio Freitas)

Edmar Oliveira

Já está até ficando chato eu falar aqui da saudade de uma cidade que não mais existe. Papo de velho saudosista. Mas vamos lá:

O tal do Conselheiro Saraiva encontrou um lugar para fazer uma nova capital do Piauí entre dois rios. Saraiva era um jovem baiano de 27 anos nesta época e ali começava sua carreira política no Império, chegando a primeiro-ministro, com quase 60 anos, no mesmo dia em que Deodoro aplicou o golpe no Imperador Pedro II. Foi, sem nunca ter sido.

Mas estamos aqui falando do jovem Saraiva que fundou uma capital de província entre dois rios, sonhando com sua Mesopotâmia. O ato de fundação foi no Largo do Amparo, às margens do Rio Parnaíba, que separa a cidade do Maranhão. Ali apareceram os primeiros prédios públicos: a sede do governo, hoje Casa Anísio Brito; a igreja do Amparo, que só ganharia as altas torres bem mais tarde; o Mercado São José, junto ao cais e ao movimento dos barcos. Seu plano urbano é um tabuleiro de xadrez, circundado pela Avenida Circular, hoje Miguel Rosa. No tabuleiro, espaços públicos das praças Landri Sales, João Luís, Rio Branco, Pedro Segundo, da Liberdade, Saraiva, a do Conselheiro e onde fica a Igreja de Nossa Senhora do Amparo. E por trás da Igreja de São Benedito, lá no alto do Jurubeba – depois da Chácara de Karnak – a  avenida Frei Serafim, que a gente chamava simplesmente de Avenida. Ela separava a zona norte da zona sul e ia até o Rio Poty. A nossa Avenida era única e quando falávamos avenida era ela a quem estávamos nos referindo. Entrou até para o cancioneiro popular a nossa Avenida. Larga, arborizada, tem um passeio central de muita sombra que nos protege do calar escaldante. São oitizeiros, na maioria, frondosos e refrescantes. Sempre que vou à terra passeio no seu passeio e retorno à minha mocidade.
 
Avenida quando inaugurada
Depois que a cidade se mudou para o outro lado do Poty, tão lamentado nesse espaço, a cidade ficou sitiada – como fala o poeta Paulo Tabatinga – e foi sendo destruída nas nossas lembranças. Os casarios, muitos de influência árabe, foram postos abaixo e viraram estacionamento. Ali só funcionam os órgãos públicos e um comércio decadente. Os endinheirados foram morar do outro lado do rio. As praças vazias e abandonadas. Só a Pedro Segundo ainda vive na força de uns últimos resistentes. Quando aquela gente a deixar, ela morre. O Mercado São José – que nós chamamos de Mercado Velho – foi abandonado e vinha sendo degradado. Fui informado que estão fazendo uma reforma modernizadora não respeitando as características arquitetônicas daquele prédio publico.

Agora o Durvalino Couto grita que vão destruir o passeio da Avenida para alargar as pistas de rolamento. Querem entrar mais depressa na cidade velha e lá demorarem o mínimo tempo possível. Nos carros com ar condicionado. Nas imitações – sem noção – dos BRTs do sul maravilha. Para isso as maquetes anunciam o corte das centenárias árvores, que – naturalmente – refrescam a cidade do seu calor intenso. Mais um símbolo da antiga cidade será demolido. E na insaciável “derribada” do verde, cortam sem pena esses “pés de pau réi” para a “mudernagem” especulativa da força da grana “que ergue e destrói coisas belas”. Na velha cidade mais que destrói, corrijo o poeta. 



A minha Avenida está ameaçada de só existir na memória da minha geração. E morrer como vai morrer a nossa memória. Às vezes me perguntam quando vou voltar para Teresina. Não se pode voltar para uma cidade que não mais existe!  



Maquete com a destruição do Passeio


O Mercado Velho original

Um comentário:

José Pedro Araújo disse...

Prezado Edmar,
Teresina não precisa de novas vias, alargamentos e etc. Teresina precisa de mais árvores, e de menos carros. Derrubar as poucas árvores que temos é sinônimo de burrice, de jeguismo. Transito costumeiramente pela Frei Serafim e, a despeito de alguns poucos minutos de retenção no trânsito, vejo que ele flui relativamente rápido. Do Jóquei ao centro, leva-se pouco mais de quinze minutos,não se pode reclamar. Alterar a feição da frei Serafim é um crime de lesa pátria e que poderia suscitar alguns anos de cadeia ao seu malfeitor. Assim como aconteceu no centro do Rio, quando mãos criminosas descaracterizaram o passeio público e adjacências, daqui a alguns anos vai aparecer alguém para ressuscitar a Frei Serafim tal como ela se encontra hoje.Mas, a que custo?