domingo, 6 de setembro de 2015

DE PAIS E DE NOMES

(Edmar Oliveira)
desenho: Antônio Amaral

Tive um colega chamado Alan Kardec que jamais seguiu a doutrina do pai. Acho que por birra, o meu Alan Kardec se tornou protestante como a avó. Ia à Igreja Batista e queria que seu nome fosse João. Perdi contato com ele e não sei como resolveu a sua encrenca religiosa com o pai. Outro colega se chamava Thomas Jefferson e tinha orgulho do nome, sabia tudo sobre o homenageado do pai e queria, invejosamente, ser americano. Também não acompanhei o seu crescimento para saber o que aconteceu com tal idolatria.

Não conheci um menino chamado Lenine, mas o cantor e compositor conhecido destrambelhou das ideações paternas e ao invés de um político de esquerda foi brilhar na musica popular brasileira, com muito mais benefício para a humanidade do que se tivesse seguido a sina do nome desejada pelo pai.

Um Adolf Hitler de esquerda é quase um desafio freudiano à ordem paterna. Como tem um político chamado Freud que se tornou famoso por ser um dos aloprados nomeados por seu mentor político. Freud se remexeu na tumba.

Os vários Luíses Carlos que eu conheço, na faixa dos sessenta anos, parecem ser uma homenagem de seus pais ao Cavaleiro da Esperança. Conheci um Juarez que nunca soube quem era o Távora.

Atendi recentemente um Roberto Carlos, tão rei dentro da sua própria loucura, que criou um palco na comunidade para se apresentar na sua insensatez espontânea. Se seu pai queria um rei, ele se fez louco para mostrar que o pai estava nu no seu desejo. Lá em casa quem se parece com meu pai é um outro irmão, não aquele que carrega o seu nome.

E os filhos do meu avô protestante tinham todos os nomes de judeus do antigo testamento, mas se pareciam a árabes esmirrados da palestina. Nacif é um amigo carcamano (como os piauienses chamam os árabes) que se parece um gordo coronel nordestino criador de gado, descendente de portugueses.

O argentino Jorge Mário adotou o nome de Francisco, quando se tornou Papa, e de fato incorporou o espírito do despojado amigo dos pássaros, surpreendendo com o comportamento do santo, que os católicos admiram, mas não querem ser. Um amigo meu, quando adolescente, jogou fora sua carteira e documentos para seguir o exemplo de São Francisco e levou uma sova do pai. Ainda bem que não o levaram a um psiquiatra, pois acabou virando um. E não se tornou um religioso por absoluta falta de fé do seu pai.


Não tenho a menor ideia de como meus pais pensaram meu nome. Nunca perguntei e me acostumei com ele naturalmente. O Google diz que vem do germânico. Certamente meu pai não sabia disso lá nos interiores de Palmeirais. Mas cada irmão meu que nascia recebia um nome começado pela letra E. Quando não sabia mais chamou o mais novo com o nome dele e a mais nova com os nomes das avós. Pior que eu repeti nos meus filhos a mesma letra dos costumes nordestinos. Praga da sina.  



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