domingo, 6 de setembro de 2015

Rua Rio de Janeiro


(Geraldo Borges)

               Eu moro na Rua Rio de Janeiro que nasce na Avenida  Duque de Caxias, e depois de uma subida não tão íngreme desce e morre na Rua  Magalhães Filho Faz parte de um conjunto de ruas que têm nome de estados, está paralela a  antiga Rua Bahia, que, hoje atende pelo nome de Petrônio Portela. Não sei se vão também batizar a Rua Rio e Janeiro com o nome de algum político da moda. Às vezes pega, nem sempre. Os correios cuidam disso, juntamente com seus antigos moradores. A Rua Rio de Janeiro tem a sua história, fica no bairro  Aeroporto, ou Primavera, algumas correspondências chegam com o carimbo da Primavera outras do Aeroporto.

 Em tempos bem antigos não passava de uma viela mal iluminada, cheia de terrenos baldios e algumas quintas, e que aos pouco foram invadidos e depois regularizados pela prefeitura.

Aos poucos  os novos proprietários construíram novas casas sob a orientação de arquitetos, engenheiros, mestres de obras, e do operário que mete a mão na massa. A rua ficou completamente habitada. Certo que ainda existem pequenas casas atarracadas, com apenas uma porta e janela, fundo de quintal, sem garagem, calçadas desnivelada, com buracos. Mas, a maioria, são modernas, habitadas pela classe media, com jardins, garagem, cachorros, cercas elétricas, vigias, que fazem ronda e apitam. Antes das cercas elétricas usavam-se cacos de vidro nos muros, e assim, o medo, refletia, e reflete na arquitetura da cidade.

Pervagando a minha rua em direção ao rio Poty, vou redescobrindo o seu mapa.
Do lado direito há um conjunto de casas do IPASE, toda mais ou menos iguais. Do lado esquerdo, existem mansões bem construídas, de mais de um andar, de portões fechados, campainhas, que também podem ser chamadas de cigarras, interfone, empregadas domesticas, jardineiros, piscinas, e quem sabe até mordomos. Nesse mesmo quarteirão encontra-se também uma butique onde a especialidade é vestido de noiva.

 Logo mais no outro quarteirão, do lado direito ergue-se um condomínio, depois vem um  bar, que fica numa esquina.

 Continuando a minha caminhada chego à casa de dona Princesa. Trata-se de uma pessoa que deveria ser homenageada, pois foi uma das pioneiras da venda de livro em Teresina. Se hoje existem várias livrarias na capital do Piauí foi graças a ela, seus filhos e o velho Nilo, seu marido. Foi na sua livraria que comprei os meus primeiros romances que me fizeram descobrir um novo mundo. Defronte da casa de dona Princesa existe uma distribuidora de bebidas vizinha à casa do meu amigo Santana, professor universitário. E que cuida e uns pés de planta na frente de sua casa.

  A rua está repleta de carros correndo. Atravesso uma rua e pego outro quarteirão  onde fica a Academia Paraguaçu, lugar onde as pessoas  vão curtir o corpo.

 Do outro lado esta a casa de seu Venceslau, com a sua oficina de sapateiro restaurador. Às vezes vou conversar com ele e vejo que a sua freguesia é grande.  Não é careiro. E agora com a crise continua mantendo o preço de seus serviços.

Defronte de minha casa existe uma fabrica de confecção. De tarde as operarias jogam retalhos dentro de sacos de plástico no lixo. Algumas mulheres habilidosas pegam os retalhos, que são de muitas cores, levam para casa, e fazem um trabalho de economia domestica com eles, transformam-nos em lenços, toalhas, guardanapos, toalhas de mesa.


Da minha casa para o fim da rua falta apenas um quarteirão, e é descida. Nele existe uma quitanda modesta, com a porta gradeada por causa de ladrões, e um salão de beleza. Parece que é mais ou menos isso. Abro o portão e entro. Bom.  Esqueci-me de dizer que tenho um sebo com livros novos e usados, e algumas obras raras.



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