(Geraldo Borges)
Mais um
contemporâneo e conterrâneo que viaja para o nunca mais. Era um erudito que
saiu muito cedo do Piauí, conheceu a Europa onde estudou. E a sua literatura
não tem muito a ver com o nosso estado, apenas o vinculo da língua portuguesa,
é claro. Chegou a escrever uma tese de doutorado em forma de romance dispensando
rodapés e bibliografia.E foi aceito pela comunidade acadêmica.
Procurei o seu nome nos manuais da Literatura
Piauiense e não encontrei nem uma noticia sobre ele. Pouco sei a seu respeito.
Só que é um grande escritor muito pouco lido no Piauí. Eu li alguns livros dele,
como, por exemplo, Solidão em Família. Por aí pelas minhas andanças encontrei
alguns de seus livros nos Sebos. Com o tempo o seu estilo ficou muito sofisticado
para o meu gosto. Uma das últimas vezes que ouvi falar em seu nome foi pela
boca do poeta e cronista Rogério Newton, por sinal, fazendo-lhe um grande
elogio.
Mas a morte do Esdra me liga a certas
recordações da Rua Campos Sales. Não é que ele tinha um irmão que morava
defronte lá de casa.
Uma vez ele entrou na quitanda de meu pai e me
viu lendo o romance Solidão em Família, e me declarou que o autor era seu irmão. Foi uma surpresa. Meu
espírito provinciano chegou a duvidar dessa coincidência. Mas os sobrenomes
coincidiam. E se eu não conhecia o famoso escritor, sua presença em carne e
ossos, pelo menos conhecia o seu irmão, que para mim ficou mais famoso que o
próprio romancista. O seu irmão chamava-se Ezio Beleza do Nascimento, também já
morreu.
Os meus conhecidos da minha
geração estão morrendo. E muitos já estão mortos e não sabem. A morte é seria. É
por isso que ela requer ritual e solenidade. Mesmo para o poeta que diz: quando
eu morrer batam em latas. Bom. Esdra do Nascimento era um escritor discreto, um
caracol dentro de sua concha. Agora vai ficar mais discreto ainda. Embora
lembrado pelos seus milheiros de leitores que nunca conheceram o seu irmão.
Ezio Beleza.
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