domingo, 6 de setembro de 2015

نهاية

أحلام الغرقى




(Edmar Oliveira)

Em maio último escrevi aqui sobre os náufragos árabes que queriam entrar na Europa, fugindo da guerra civil em sua terra, patrocinada sempre por esses europeus que os rejeitam. Os interesses econômicos saltam fronteiras e circulam livremente. Gente não. Os civilizados podem bombardear as terras alheias, mas não aceitam quem foge da guerra. A Europa agora desenvolve um pensamento paranoico para justificar sua xenofobia: pode haver terroristas muçulmanos extremistas entre os invasores. O medo agora justifica a expulsão.

O que se pensava em maio, sobre uma maior tolerância dos europeus (por conta do protesto global), não aconteceu e a situação piorou: as estações de trem são fechadas para que os migrantes não possam circular, as fronteiras são reforçadas com arame farpado. Melhor que não desembarquem e o mar que coma seus corpos. Um caminhão frigorífico, com a inocente estampa de uma galinha, foi abandonado por traficantes de pessoas com setenta e um corpos em estado de decomposição. Nas estradas do leste europeu mais caminhões são barrados com suspeita de tráfico de pessoas. Uma foto patética mostrou um migrante espremido ao motor de um automóvel quando o capô foi levantado. A Alemanha propõe uma equidade na distribuição dos invasores pela UE. Alguns países, entre eles o Reino Unido, negam-se a receberem sua cota. A Europa vive um pesadelo. O medo se alastra. Os árabes são perigosos invasores, como nos tempos medievais.

Nesta semana uma foto simbolizou a tragédia: o corpo do pequeno Aylan, de três anos, devolvido pelo mar a uma praia turca surpreendeu o mundo nesses tempos de virulização de imagens pela internet. Aylan nasceu na Síria em guerra. Morreu, junto com o irmão mais velho e a mãe, numa tentativa heroica de chegar junto a parentes no Canadá para fugir da guerra.


Ali na praia deserta, banhado por espumas do mar, jazia o pequeno Aylan, devolvido a Turquia por uma Europa xenófoba. E aquela pequenina criança representava o árabe muçulmano radical que a civilização europeia tanto teme. O pequeno Aylan cresceu entre bombardeios de uma guerra que não chegou a entender. Também não teve tempo de entender porque o mundo civilizado não quis que ele brincasse sem medo de bombas. Nem soube que a velha Europa preferiu que ele morresse afogado, antes de crescer e cometer um atentado terrorista. Nem entendeu porque Alá não teve piedade de sua alma.    








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