OURO NO RIACHO
Rogério Newton
Nos últimos dias, intensificou-se
o desmatamento das margens do Riacho Mocha, na altura do Loteamento Residencial
Vila da Mocha. Se antes boa parte da cobertura vegetal havia sido suprimida com
as primeiras obras de preparação do loteamento, agora praticamente toda a
vegetação que restava foi retirada, deixando a paisagem com aspecto de terra
arrasada. Poucas árvores, aqui e ali, foram poupadas, algumas belíssimas, mas é
difícil saber até quando, já que não há evidências de um propósito claro, ou
coisa que o valha, para conservar o que milagrosamente sobrou.
Através deste Portal e da página
da Associação Ambiental de Oeiras no Facebook, imagens foram veiculadas
mostrando os danos causados pelo desmatamento na Área de Preservação Permanente
(APP), definida pelo Código Florestal, isto é, a faixa de 30 metros de cada
margem do Riacho Mocha. Agora, a situação piorou, pois até pequenos arbustos e
pés de marias-moles foram derrubados.
A intensificação dos danos
ambientais na Área de Preservação Permanente veio a ocorrer justamente após
perícia do Ministério Público no local, a qual constatou a destruição da
cobertura vegetal da área protegida por lei, que era pouco densa, é verdade, e
hoje nem mais isso é. O aumento dos danos ocorre há poucos dias da reunião
agendada para o próximo 30 de junho, no Ministério Público, em Teresina, com o
objetivo de discussão do problema com os principais interessados, para
alcançar, quem sabe, uma solução consensual.
As primeiras intervenções na
área, visando a preparação do terreno para o loteamento, suprimiram grande
parte do que restava da paisagem verde em ambas as margens do riacho, entre a
Bica e a Ponte Zacarias de Goes. Publicações de imagens e artigos alertaram
para a ilegalidade e a desnecessidade de derrubar árvores, especialmente na
Área de Preservação Permanente. Mas parece que foi pior. Os alertas e as
súplicas não só foram inúteis para cessar o desmatamento, como também
provocaram efeito contrário: a detruição do verde voltou com intensidade redobrada.
Procura-se uma explicação
racional para o fato, mas é difícil encontrá-la. Seja como for, é lamentável
que tudo isso esteja acontecendo. A intensificação da destruição parece
sinalizar para uma rigidez de posições. Por outro lado, torna mais problemático
(mas não impossível) o reflorestamento, já que a terra está praticamente
desnuda, mesmo na área declarada de preservação permanente pelo Código
Florestal e prioritária para conservação pela Lei Orgânica do Município.
No último sábado e domingo, conversei
com algumas pessoas que fui encontrando no percurso de ida e volta do
loteamento. Todas manifestaram descontamento contra esse recente golpe contra o
riacho. Dizem, resignadas: __ Isso é Oeiras!
Não tenho esse entendimento
fatalista. Acho que é possível reverter o problema, se os envolvidos pensarem
que podem fazer algo diferente do padrão que se repete em relação ao Riacho
Mocha, sobretudo após os primeiros anos da década de 70, ou antes disso. A
manutenção de uma área verde margeando o riacho só trará benefícios à cidade,
que se ressente de locais públicos de lazer. Será até uma forma de valorização
do próprio loteamento. Os moradores
poderiam ter à sua disposição um parque verde para fazer caminhadas e ficar
mais perto da natureza.
Frequentemente, diz-se que Oeiras
é terra de pessoas inteligentes. A cidade é famosa por suas tradições. Ostenta
vários títulos. Porém, a forma como vem sendo tratada a questão ambiental,
especialmente a do Riacho Mocha, não se afina com os galardões e a grandeza cultural
que a cidade possui.
O loteamento em questão é um
sintoma, entre outros, de que a ecologia urbana oeirense necessita de olhares e
atitudes proativas. Mas também é uma oportunidade de ouro que a cidade tem nas
mãos para resolver o problema de forma inteligente e sensível e de fazer
justiça ao Riacho Mocha, que, a exeção dos filmes, artigos, crônicas, poemas,
seminários e exposições de fotografias, só tem sofrido derrotas nos últimos
cinquenta anos.
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as fotos também são de Rogério
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