(Antônio Máximo)
Dunga é um excelente objeto de estudo biográfico. Assim como a biografia, modalidade durante muito tempo desvalorizada pela importância excessiva que dava à ação individual, hoje recuperada justo pela revalorização da vontade na compreensão do contexto, o meio-campo que, embora estivesse longe de um Falcão, de um Cerezo, de um Andrade, não era nenhum brucutu e sabia até fazer lançamentos de trivela. Dunga, entretanto, encarnou a “Era Dunga” e aí foi o seu calvário, cujas chagas continuam até hoje. Tal como nos anos 90 não era a encarnação da aridez pragmática que nos daria 94, hoje também não é o Mal Absoluto. Vê-lo dessa maneira é espalhar a cortina de fumaça que esconde problemas que não convém exame. Dunga não é o responsável pela falta de vínculo entre os jogadores e o futebol brasileiro. Talvez seja a nova divisão do trabalho do futebol espetáculo em que os jogadores são vendidos ainda na fralda (Messi, aliás, foi pra Espanha com 8 anos e também enfrenta esse problema na Argentina). É certo que o problema de Dunga está na questão conceitual de jogo, de que o melhor exemplo é o time do Chile, treinado pelo Sampaoli, que é um treinador inquieto, criativo e que dá gosto ver o seu time jogar, time também cheio de jogadores mercadorias de consumo externo. Por isso, além do contexto internacional, que afeta todo o mundo da bola, temos os nossos problemas específicos, da grande política que nos deu e nos dá Havelange, Otávio Pinto Guimarães, Nabi, Teixeira, Marin, Del Nero e Vírus anexos. E que nada se parecem com a Branca de Neve.
SRN
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