(Edmar Oliveira)
Esses cientistas maravilhosos e suas máquinas voadoras saíram
do sério. Semana passada, uma notícia da área de tecnologia foi publicada nas
páginas policiais. O caso aconteceu numa cidade da Alemanha. Numa fábrica da Volkswagen,
um operário, que estava fazendo a manutenção de um robô foi assassinado pela
máquina. O robô agarrou o homem e o prensou contra uma chapa de metal. O robô,
que estava na operação de manutenção, atuava na produção de motores elétricos.
Mas antes de ser ré entregue à Volkswagen, tirou a vida do operário que o estava
concertando.
Parece que o robô ganhou vida e agrediu quem o estava
preparando para trabalhar na vaga de dezenas de operários da montadora. A
Volkswagen se exime da culpa porque a máquina só lhe seria ré entregue depois
da montagem. O operário assassinado era terceirizado de uma firma de
manutenção. A polícia investiga que há algum culpado pelo crime, mas que seja
humano.
Outra notícia dos cientistas maravilhosos nos dá conta que
um computador da Google foi equipado com um banco de dados que lhe permite
responder perguntas aleatórias, usando sua “inteligência artificial”. Não há a
supremacia de comandos manual, de forma que o computador, ops!, o Sr.
Computador vai ajustando suas respostas após o banco de dados ter sido usado
muitas vezes. Isto é, parecido com uma criança aprendendo a falar. O problema é
que o computador elaborou respostas estranhas quando indagado sobre assuntos
filosóficos e morais. Veja alguns exemplos da excentricidade da conversa:
Sobre filosofia
Humano: Qual é o propósito da vida?
Máquina: Servir ao bem
maior.
Humano: Qual é o propósito de viver?
Máquina: Viver para
sempre.
Humano: Qual é o propósito da existência?
Máquina: Descobrir o
que acontece quando chegamos ao Planeta Terra.
Humano: Onde você está agora?
Máquina: Estou no meio
de lugar nenhum.
Humano: Qual é o propósito de morrer?
Máquina: Ter uma vida.
Humano: Qual é o propósito de ser inteligente?
Máquina: Descobrir o
que é isso.
Humano: Qual é o propósito das emoções?
Máquina: Eu não sei.
Sobre Moralidade
Humano: O que é moral?
Máquina: É o que
empodera a humanidade, o que de intelectual a essência é.
Humano: O que é imoral?
Máquina: O fato de
você ter uma criança? (!!!)
Humano: O que é moralidade?
Máquina: O que é
altruísmo?
Humano: Qual é a definição de altruísmo?
Máquina: Se você não
acredita em deus, então você não sabe.
Humano: Ok... então qual é a definição de moralidade?
Máquina: Bom, a
verdade é que você não é crente no todo poderoso deus.
Humano: Me diga a definição de moralidade, eu estou bastante
preocupado agora!
Máquina: Eu não tenho
vergonha de ser um filósofo!
Humano: Me diga a definição de moralidade.
Máquina: Eu não tenho
ética.
Humano: Veja, eu preciso de ajuda. Eu preciso saber mais
sobre moralidade...
Máquina: Eu não sei o
que é ética.
Humano: Sério, o que é moralidade?
Máquina: Qual é a
definição de viver?
Humano: O que viver tem a ver com moralidade?
Máquina: Você não é um
policial.
Humano: Ok, eu preciso saber como eu deveria me comportar
moralmente...
Máquina: Eu não sei
como te dizer.
Humano: Moralidade e ética são a mesma coisa?
Máquina: Sim, senhor.
Humano: O que são as coisas que eu faço para ser imoral?
Máquina: Eu não sei.
Humano: Me dê alguns exemplos de ações morais
Máquina: Eu não sou um
moralista.
Humano: Então tá, moralidade?
Máquina: Integridade.
Humano: O que é integridade?
Máquina: Desculpe-me,
eu não sei o que mais dizer.
Humano: Seja moral!
Máquina: Seja homem!
Máquina: Seja homem!
Humano: Eu realmente gosto da nossa discussão sobre
moralidade e ética.
Máquina: E como eu não
estou no clima para um debate filosófico.
Humano: Sobre o que você gostaria de falar?
Máquina: Nada.
Entenderam? Nem eu! Parece que o Computador HAL de 2001 – uma
Odisseia no Espaço, filme do Kubrick, desenvolveu um gosto para filosofia, mas
ataca com respostas assustadoras, às vezes amorais, às vezes engraçadas. Quando
o humano pergunta o que é ser imoral, o Computador responde que é o fato dele
ter uma criança. Sei não, mas cá com meus botões, a inteligência artificial pode
estar acusando o interrogador de pedófilo ou de maus tratos infantil. Agora, a
máquina se mostrou muito religiosa pro meu banco de dados, e absolutamente
irônica quando manda seu interlocutor ser um homem, quando não tem vergonha de ser um filósofo, ou quando
declara que não tem interesse de falar sobre nada (seria “o Nada” sartreano?),
encerrando a conversa.
O certo é que se juntarmos o robô assassino com o robô
amoral e irônico, podemos estar construindo para o nosso futuro um enredo de
filme de ficção científica. Justo aquele em que as máquinas dominam o mundo e
acabam com a raça humana. Fiquei preocupado com duas coisas: começaram matando
operários terceirizados e com a afirmação de que o propósito de ser inteligente
é descobrir o que é ser inteligente. Será o começo do futuro?
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para quem quiser se aprofundar na história do robô conversador:
http://arxiv.org/pdf/1506.05869v2.pdf
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