TÍTULO: Frutos Estranhos — Sobre a
inespecificidade na estética contemporânea
AUTOR: Florencia Garramuño
EDITORA: Rocco, 128 páginas
::Luíz
Horácio
Florianópolis
A pesquisadora argentina, Florencia
Garramuño, professora da Universidade San Andres, em Buenos
Aires, PhD pela Universidade de
Princeton, Estados Unidos, e pós-doutora
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), escolheu obras
artísticas do Brasil e da Argentina e
transformou em livro; Frutos estranhos, são quatro ensaios que abordam, segundo
Florencia, a arte inespecífica.
Um nome novo para algo existente, manjadíssimo para estudantes de
Comunicação e Estética.
Do que se ocupa? Investiga a imbricação das variadas formas de
expressão artística, atualmente também trata das possibilidades numa variedade
de mídias que servem de suporte. Mas o que resulta dessa imbricação, dessa
invasão do espaço alheio, que arte é essa?
Exemplo: Esquilos de Pavlov, livro de estréia da artista plástica
e a partir de então escritora, Laura Erber. Nesse trabalho a autora utiliza a
fotografia para tornar visível a narrativa. Outra utilidade para essa
combinação é de permitir um número significativo de interpretações.
Outros, como Abel Meeropol
fizeram o caminho inverso, seu
poema Strange fruit
nasceu quando o poeta viu
uma foto de linchamento de negros nos Estados Unidos. Não demorou para o
poema, nascido de uma foto, virar música e tornar-se um clássico na voz de
Billie Holiday. Ainda surgiria um romance com esse mesmo título. Logo, a
cumplicidade não é novidade. Desde que executada por artistas competentes o
resultado geralmente é expressivo embora não seja essa a tônica.
Para enfatizar a ausência de novidade na obra de Garramuño, sugiro
que o curioso leitor faça uma pesquisa sobre o termo Remediação, definido por
Paul Levinson como
um processo que faz uso de novas
tecnologias para melhorar as tecnologias
precedentes.
Enram em cenas os paladinos das novas mídias;
internet, realidade virtual e mais e mais, erguem barreiras que as separam das mídias anteriores.Elas, as novas,
oferecem novos parâmetros estéticos. Isso se não é óbvio, é o quê? Até onde sei
o novo traz novidades. Ou não?
Jay David Bolter e Richard Grusin
buscam um meio termo, acreditam que as novas mídias se justificam por
atualizar as antigas mídias, a isso chamam de Remediação.
Vá atrás, curioso leitor, da obra da dupla;Remediation. Understanding new
media, 2000, para isso existe Amazon.
Frutos estranhos faz parte da coleção Entrecríticas, e repete
o título de uma instalação de Nuno
Ramos, essa picaretagem identificadora do estágio patético das artes plásticas,
cometida no MAM, Rio de Janeiro/2010.
Diz a professora que as obras citadas nos ensaios apresentam como
ponto comum a “unidade do não pertencimento”, elas se identificariam a partir de
uma não indentificação. Demais para um tosco aprendiz como este que ora digita
essas tristes frases. Tristes porque se ocupam de um vale tudo na terra de
ninguém, tudo se justifica, tudo pode, desde que o autor saiba ostentar seus
títulos e premiações. Aí a orda ignara ajoelha e aplaude. Separar o joio do
trigo é prática pra lá de obsoleta.
Mas façamos uma tentativa.O que seria esse tal “não
pertencimento”.
Garramuño defende que, em certas obras contemporâneas brasileiras e latino-
americanas, percebe-se uma certa
indeterminação, uma dificuldade de definição dos limites entre as formas de
expressão, suportes e discurso, por parte dos artista,. Essa dificuldade ou
confusão, caso você prefira, assim como eu, implica o tal do não pertencimento. Resultado: o
inespecífico. Profundo, não! Não, um vale tudo. Isso mesmo, não há regras. E à
literatura, a nossa principalmente, que não anda bem das pernas há muito tempo,
restou o papel de coadjuvante.
E por falar em Literatura, quem está no balaio?
Pois bem, encotramos por lá títulos de Luiz Ruffato, Ricardo
Domeneck, Carlito Azevedo, Tamara Kamenszain, Sylvia Molloy. O que fizeram para
merecer isso? Excetuando Luiz Ruffato, eles eram muito cavalos, única obra de
grande relevância entre as arroladas pela autora, os demais primam pela combinação de gêneros e misturas
de ficção e realidade embora sem alcançar a ambiguidade de Philippe Forest,
Christine Angot e Jean-Louis Fournier.
Fico com esses para não ocupar mais umas dez linhas. Pois bem, alinhemos os nossos autores com os artistas
plásticos Helio Oiticica, Nuno Ramos, isso mesmo caro leitor, você precisa
gostar pois todo mundo gosta. Mesmo que para
isso seja necessário não entender nada sobre pintura, escultura, ah, mas
precisa entender de instalação!
Mas atenção, apressado leitor, existe um detalhe extremamente
importante em Frutos estranhos, e ele reside no subtítulo; Sobre a
inespecificidade na estética contemporânea, algo como uma auto defesa. A
ocorrência e utilização das novas mídias, a propagação das redes sociais, o
leitor, um novo leitor ou o velho leitor forçosamente adaptado?, o leitor como
cúmplice criador. Resumo utilizando palavras adequadas: Os antigos suportes,
uma tela antigamente servia à pintura, um mosaico era destinado a um
revestimento, decoração; atualmente podem, respectivamente, receber uma
projeção em vídeo e um poema. Logo, os suportes ganharam outras utilidades e
até mesmo novos sentidos. A interatividade é quase uma exigência, a obra, seja
ela literária, temos livros onde o leitor está encarregado de concluí-lo; seja
uma instalação onde a presença, a movimentação do espectador, agora
coadjuvante, passa a dar sentido. Isso mesmo, estupefato
leitor,inespecificidade na estética contemporânea.
Também podemos interpretar
essa inespecificidade como estágio de um aprendizado, como usar as novas
tecnologias de modo a produzir arte relevante. Combinar ingredientes é arte
para poucos, e não podemos deixar de reverenciarmos a arte que se mantém
através de séculos.E sem a mudança de suportes. Diga, honroso leitor, o que
torna Bach atual, Cervantes, o que torna Rabelais um moderno? Este aprendiz não
sataniza as novas mídias, mas há que saber utilizá-las, do contrário não passa
e não passará de uma expressão confusa, e por vezes bastante barulhenta, da
falta de talento.
Deixo aqui uma sugestão de
obra onde você encontrará um tanto dessa inespecificidade, da combinação de
novas e não tão novas mídias, um trabalho primoroso envolvendo literatura,
artes gráficas, música, a intervenção do artista/criador, capaz de mudar o rumo
da história. Para isso um detalhe que
viaja através dos tempos sem envelhecer se faz notar; talento. Melhor,
talentos. Vale a pena, está em
concepção direção e textos do professor da UFSC,
poeta, romancista, Alckmar Santos;vídeos e músicas do também professor da
Univ.Mackenzie Wilton Azevedo
Afinal de contas Frutos estranhos é um livro de crítica literária,
de artes plásticas, de antropologia, é o quê? Não é nada, se pensarmos nisso ou
naquilo, ao mesmo tempo representa uma diversidade imensa de
possibilidades.Para isso basta dizermos o seguinte: é um livro de criticas sobre as novas formas
de expressão artística. Mas voltemos um pouco no tempo. Alguém há de lembrar de
Glauber com a câmera na mão registrando o velório de Di Cavalcanti. Era arte? É
arte?
Deixo uma questão: quem escreverá um ensaio sobre o pau de selfie?
Mas pau de selfie é arte, produz arte? Jamais subestime nossa
mediocridade, inocente leitor.
TRECHO
Na análise do trabalho da artista Roni Horn, inspirado em Água
viva, de Clarice Lispector - cujo pertencimento a um gênero ou forma é evitado
constantemente - , Hélène Cixous explorou os vários modos como a artista
deslocou as frases da escritora para azulejos de borracha colocados no chão de
uma galeria, ou escritas em serigrafia que depois penduraria nas escadas e
corredores do espaço. Segundo Cixous, Horn expôs “toutes les façons possibles
de fuir un cadre, un enfermement, une arrestation donc une Maison, un cage, une institution, une
frontière, un tout. La désappartenance.”[ todas as maneiras de fugir de um
quadro, de um encerramento, de uma captura e logo de uma casa, de uma gaiola,
uma instituição, uma fronteira, um todo. O não pertencimento.] ( 2005, p.62)
Désappartenance ou disbelonging, em inglês, conservam um sentido
mais ativo que negativo que eu gostaria de manter para essas práticas; um modo
que, mais que exibir uma carência, faz da invenção do comum e desindividualizante uma proposta ativa para
imaginar mundos alternativos,que talvez a palavra impertinência permita sugerir
com mais felicidade.
AUTORA
Florencia Garramuño é PhD em Romance, Languages and Literatures
pela Princeton University e pós-doutorada pela UERJ. Dirige o Programa em
Cultura Brasileira da Universidad de San Andrés, na Argentina e é pesquisadora
independente do CONICET
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Luiz Horácio destrói os Frutos Estranhos da argentina. Mas ele chama atenção como é interessante o original de Abel Meeropol na voz de Billie Holliday. Para a lembrança do belo original:
Um comentário:
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