domingo, 19 de abril de 2015

Prêmio Nobel de Literatura

Sentido horário: Mistral, Astúrias, Neruda, Gabo, Paz e Llosa

(Geraldo Borges)

Prêmios literários não classificam nem desclassificam os seus detentores, nem, muito manos, as suas obras. Não seja por isso. Mesmo assim ouçamos o que nos diz Pablo Neruda, um ganhador do premio Nobel.

 “A verdade é que todo o escritor deste planeta chamado terra quer alcançar alguma vez o prêmio Nobel, inclusive os que não o dizem e também os que o negam.”

               Conheço mais ou menos a história do Premio Nobel e espero ate hoje um escritor brasileiro ganhar esse prêmio. Está difícil. Mas, em compensação, a lista dos premiados hispano-americanos é razoável. O espanhol é mais conhecido que a língua portuguesa.

               “A última flor do Lácio, inculta e bela. És a um tempo esplendor e sepultura. Amo-te assim, desconhecida e obscura.”

               Do tempo de Olavo Bilac para cá não mudou muito não. Não obstante o Itamaraty e os consulados brasileiros pelo mundo afora, muita gente pensa que falamos espanhol.

                Com mais de um século de vida o Premio Nobel premiou apenas um escritor da língua portuguesa, - Saramago, um comunista histórico. No momento em que os comunistas não metem mais  medo em ninguém.

               O primeiro escritor latino americano que ganhou o Prêmio Nobel da Literatura, 1945, chama-se Gabriela Mistral, grande poeta. Também foi professora primária. A sua celebre página - Oração da Mestra - é um hino que ainda ecoa em nossos dias.  Ouçamos.

               “Senhor! Tu que ensinaste, perdoa que eu ensine e que tenha o nome de mestra, que tiveste na terra. Dá-me o amor exclusivo de minha escola; que mesmo a ânsia da beleza não seja capaz de roubar-lhe a minha ternura de todos os instantes. – Mestre faze perdurável em mim o entusiasmo e passageiro o desencanto.”

               Pouco mais de vinte anos depois eis que surge um novo escritor Miguel Ángel Astúrias, da Guatemala, autor do romance O Senhor Presidente. Ouçamos  o que diz dele Gabriela Mistral.
              
               “E uma obra fenomenal que focaliza numa linguagem incisiva, poética, realista, a tirania na América; sem a menor dúvida uma das narrações mais fortes, mais cruas, mais impressionantes já publicadas em qualquer idioma.”

               O idioma espanhol mais uma vez está de parabéns, e a literatura barroca  abrindo caminho para o realismo mágico.

               Não se passaram quatro anos lá vem Pablo Neruda, 1971, de novo um Chileno, grande poeta e prosador. Ouçamos o que ele diz aqui a respeito de seu irmão Garcia Lorca.

               “Não sou político nem jamais participei da na contenda política, e minhas  palavras, que muitos teriam desejado neutras, estiveram tingidas de paixão. Compreendei-me e compreendei que nós, os poetas da América espanhola e os poetas da Espanha, nunca esqueceremos nem perdoaremos o assassinato de quem consideramos o maior dentre nós, o anjo deste momento da nossa  língua. E perdoai-me o fato de que de todas as dores da Espanha só vos recorde a vida e a morte de um poeta. E que nós não podemos nunca esquecer este crime, nem perdoá-lo. Não o esqueceremos, nem  o perdoaremos nunca. Nunca”.

               Uma década mais tarde o realismo mágico abre caminho para Gabriel Garcia Marques, 1982. Quem não se recorda de Cem anos de solidão? Foi então quando começamos a dar mais importância aos escritores hispano-americanos. Consideramo-nos os melhores. Como disse Paulo Mendes Campos:

               “Era indício de mau gosto ou birutice gostar dos sul-americanos,  a não ser de Pablo Neruda.”

               Só queríamos saber dos europeus.

               Em menos de dez anos depois, 1990, Otavio Paz, poeta e prosador mexicano empalma o Premio Nobel. Há muito tempo que vinha  perseguindo-o. Nós continuamos na espreita. Em compensação no futebol, somos penta campeão.

               Por enquanto temos ainda um premado, 2010. Vargas Llosa, Peruano.
Carlinhos de Oliveira

               Quem sabe o próximo não será brasileiro. Se bem que na crônica de ficção brasileira encontrei um personagem detentor do premio Nobel. Trata-se de uma crônica de nome: Autobiografia, na qual o escritor José Carlos de Oliveira diz: “Já detentor do Prêmio Nobel, o controvertido escritor brasileiro  fixou residência em Londres, cidade que ama como a nenhuma outra, e se declarou  acometido de   terríveis duvidas de caráter religioso.”

               O nosso consolo é que pelo menos na imaginação somos detentores do Prêmio Nobel.



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