Sentido horário: Mistral, Astúrias, Neruda, Gabo, Paz e Llosa |
(Geraldo Borges)
Prêmios literários não
classificam nem desclassificam os seus detentores, nem, muito manos, as suas
obras. Não seja por isso. Mesmo assim ouçamos o que nos diz Pablo Neruda, um
ganhador do premio Nobel.
“A
verdade é que todo o escritor deste planeta chamado terra quer alcançar alguma
vez o prêmio Nobel, inclusive os que não o dizem e também os que o negam.”
Conheço mais ou menos a história
do Premio Nobel e espero ate hoje um escritor brasileiro ganhar esse prêmio.
Está difícil. Mas, em compensação, a lista dos premiados hispano-americanos é
razoável. O espanhol é mais conhecido que a língua portuguesa.
“A última flor do Lácio, inculta e bela. És a um tempo esplendor e
sepultura. Amo-te assim, desconhecida e obscura.”
Do tempo de Olavo Bilac para cá
não mudou muito não. Não obstante o Itamaraty e os consulados brasileiros pelo
mundo afora, muita gente pensa que falamos espanhol.
Com mais de um século de vida o Premio Nobel
premiou apenas um escritor da língua portuguesa, - Saramago, um comunista
histórico. No momento em que os comunistas não metem mais medo em ninguém.
O primeiro escritor latino
americano que ganhou o Prêmio Nobel da Literatura, 1945, chama-se Gabriela Mistral,
grande poeta. Também foi professora primária. A sua celebre página - Oração da
Mestra - é um hino que ainda ecoa em nossos dias. Ouçamos.
“Senhor! Tu que ensinaste, perdoa que eu ensine e que tenha o nome de
mestra, que tiveste na terra. Dá-me o amor exclusivo de minha escola; que mesmo
a ânsia da beleza não seja capaz de roubar-lhe a minha ternura de todos os
instantes. – Mestre faze perdurável em mim o entusiasmo e passageiro o
desencanto.”
Pouco mais de vinte anos depois
eis que surge um novo escritor Miguel Ángel Astúrias, da Guatemala, autor do
romance O Senhor Presidente. Ouçamos o
que diz dele Gabriela Mistral.
“E uma obra fenomenal que focaliza numa linguagem incisiva, poética,
realista, a tirania na América; sem a menor dúvida uma das narrações mais
fortes, mais cruas, mais impressionantes já publicadas em qualquer idioma.”
O idioma espanhol mais uma vez
está de parabéns, e a literatura barroca
abrindo caminho para o realismo mágico.
Não se passaram quatro anos lá
vem Pablo Neruda, 1971, de novo um Chileno, grande poeta e prosador. Ouçamos o
que ele diz aqui a respeito de seu irmão Garcia Lorca.
“Não sou político nem jamais participei da na contenda política, e
minhas palavras, que muitos teriam
desejado neutras, estiveram tingidas de paixão. Compreendei-me e compreendei
que nós, os poetas da América espanhola e os poetas da Espanha, nunca
esqueceremos nem perdoaremos o assassinato de quem consideramos o maior dentre
nós, o anjo deste momento da nossa
língua. E perdoai-me o fato de que de todas as dores da Espanha só vos
recorde a vida e a morte de um poeta. E que nós não podemos nunca esquecer este
crime, nem perdoá-lo. Não o esqueceremos, nem
o perdoaremos nunca. Nunca”.
Uma década mais tarde o realismo
mágico abre caminho para Gabriel Garcia Marques, 1982. Quem não se recorda de
Cem anos de solidão? Foi então quando começamos a dar mais importância aos escritores
hispano-americanos. Consideramo-nos os melhores. Como disse Paulo Mendes
Campos:
“Era indício de mau
gosto ou birutice gostar dos sul-americanos, a não ser de Pablo Neruda.”
Só queríamos saber dos europeus.
Em menos de dez anos depois,
1990, Otavio Paz, poeta e prosador mexicano empalma o Premio Nobel. Há muito
tempo que vinha perseguindo-o. Nós
continuamos na espreita. Em compensação no futebol, somos penta campeão.
Por enquanto temos ainda um
premado, 2010. Vargas Llosa, Peruano.
Carlinhos de Oliveira |
Quem sabe o próximo não será
brasileiro. Se bem que na crônica de ficção brasileira encontrei um personagem
detentor do premio Nobel. Trata-se de uma crônica de nome: Autobiografia, na
qual o escritor José Carlos de Oliveira diz: “Já detentor do Prêmio Nobel, o controvertido escritor brasileiro fixou residência em Londres, cidade que ama
como a nenhuma outra, e se declarou
acometido de terríveis duvidas
de caráter religioso.”
O nosso consolo é que pelo menos
na imaginação somos detentores do Prêmio Nobel.
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