domingo, 19 de abril de 2015

Escrever com a mão




(Edmar Oliveira)

Reparo que as pessoas vão desaprender a lidar com a palavra manuscrita. Fora o curto período do uso dessa escrita nos primeiros anos escolares, logo há uma “evolução” para a escrita no computador. Também essa escrita de computador foi deslocada da sua antecessora, a escrita da máquina de escrever. O computador permite uma escrita “cata milho” bastante rápida e ninguém vai lembrar porque as letras do teclado são dispostas dessa forma embaralhada.

A disposição das letras no teclado foi herdada da antiga máquina de escrever mecânica e correspondia a maior uso das letras na língua inglesa e a um distanciamentos entre as pás mecânicas para evitar que uma pá trepasse em outras e travasse a máquina. Também caducou o curso de datilografia que nos ensinava a lidar com o teclado das antigas máquinas de escrever.

Pois bem, agora o texto é digital. Todas as outras formas de escrita foram sepultadas desde a popularização da escrita digital, coroada na propagação dos Smartphones. Hoje um simples número de telefone ou uma receita culinária é anotada diretamente em linguagem digital, aposentando definitivamente a caneta e o papel.

Por outro lado, a difusão desta linguagem digital ajuda a modificar sobremaneira o idioma escrito. Verbos novos como deletar são incorporados, preponderantemente, anulando o verbo apagar. Abreviações e imitações onomatopeicas tornam essa linguagem comum das redes sociais indecifrável para os mais velhos. Ainda mais quando caras e símbolos, conhecidos como ícones “emotions”, aparecem para significar tristeza, alegria, felicidade, saudade e outros sentimentos emocionais, que são escritos agora com a linguagem das cavernas pré-históricas neste futuro apressado. Verdadeiras frases são construídas com estas carinhas e desenhos popularizados nas redes sociais.


E, às vezes, essa linguagem vem muito antes da escrita manuscrita. Laura, minha neta de pouco mais de um ano já sabe apertar tela de Smartphone para interagir com essa escrita digital. Não sei se vai precisar ela apreender a escrever com a mão. Mas que eu vou tentar ensinar esse traço da nossa pré-história, isso vou.   





Um comentário:

José Pedro Araújo disse...

Texto interessante e muito atual. A falta de um caderno e de um lápis na mão dos nossos jovens tem transformado essa nova geração em autômatos, simples apertadores de botões. As escolas nunca deveriam permitir o sumiço desse artifício que, além do mais, serve para exercitar e para fixar as palavras na nossa mente. Tempos modernos, tempos fluidos!