Reparo que as pessoas vão desaprender a lidar com a palavra
manuscrita. Fora o curto período do uso dessa escrita nos primeiros anos
escolares, logo há uma “evolução” para a escrita no computador. Também essa
escrita de computador foi deslocada da sua antecessora, a escrita da máquina de
escrever. O computador permite uma escrita “cata milho” bastante rápida e
ninguém vai lembrar porque as letras do teclado são dispostas dessa forma
embaralhada.
A disposição das letras no teclado foi herdada da antiga
máquina de escrever mecânica e correspondia a maior uso das letras na língua
inglesa e a um distanciamentos entre as pás mecânicas para evitar que uma pá
trepasse em outras e travasse a máquina. Também caducou o curso de datilografia
que nos ensinava a lidar com o teclado das antigas máquinas de escrever.
Pois bem, agora o texto é digital. Todas as outras formas de
escrita foram sepultadas desde a popularização da escrita digital, coroada na propagação
dos Smartphones. Hoje um simples número de telefone ou uma receita culinária é
anotada diretamente em linguagem digital, aposentando definitivamente a caneta
e o papel.
Por outro lado, a difusão desta linguagem digital ajuda a
modificar sobremaneira o idioma escrito. Verbos novos como deletar são
incorporados, preponderantemente, anulando o verbo apagar. Abreviações e
imitações onomatopeicas tornam essa linguagem comum das redes sociais
indecifrável para os mais velhos. Ainda mais quando caras e símbolos,
conhecidos como ícones “emotions”, aparecem para significar tristeza, alegria,
felicidade, saudade e outros sentimentos emocionais, que são escritos agora com
a linguagem das cavernas pré-históricas neste futuro apressado. Verdadeiras
frases são construídas com estas carinhas e desenhos popularizados nas redes
sociais.
E, às vezes, essa linguagem vem muito antes da escrita
manuscrita. Laura, minha neta de pouco mais de um ano já sabe apertar tela de
Smartphone para interagir com essa escrita digital. Não sei se vai precisar ela
apreender a escrever com a mão. Mas que eu vou tentar ensinar esse traço da
nossa pré-história, isso vou.
Um comentário:
Texto interessante e muito atual. A falta de um caderno e de um lápis na mão dos nossos jovens tem transformado essa nova geração em autômatos, simples apertadores de botões. As escolas nunca deveriam permitir o sumiço desse artifício que, além do mais, serve para exercitar e para fixar as palavras na nossa mente. Tempos modernos, tempos fluidos!
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