domingo, 5 de abril de 2015

Pequena crônica sobre o tempo


(Edmar Oliveira)

Eu nunca acreditei muito naquela história da explosão inicial do Universo, mas tinha o Big-Bang como um dogma científico. Sim, porque se os ateus não creem nos dogmas religiosos, eles precisam acreditar nos dogmas científicos, aos quais não compreendem, mas alguns cérebros mais evoluídos endossam a crença. Algo assim como se teu cérebro tivesse uma evolução ainda paralisada no elo perdido, a explicação que falta para compreendermos a evolução do macaco ao homem.

Deixemos de macaquices e voltemos a explosão inicial – o Big Bang –, cuja explosão inaugura o universo que pensamos conhecer. Ocorre que os cálculos dos cientistas maravilhosos e suas teorias voadoras descobriram, recentemente, que alguns quasares parecem existir desde muito antes que os cálculos da explosão inaugural.

E, ao invés de refazerem os cálculos que parecem ser incompatíveis e também parece não ter solução para o problema, imaginam agora que o Big-Bang pode não ter ocorrido e o universo existiria desde sempre. Ora, que não tenha fim nos parece ser mais fácil acreditar, até porque gostaríamos de não morrer. Mas como não ter princípio? O universo sempre existiu? Mas esse não era o Deus dos crentes? Não dá pra ter nem umas explosõezinhas aqui e ali para acertar os cálculos que foram atrapalhados pelos quasares? O universo não começou e nem termina?

Não, essa trapalhada dos cientistas não me fará mais crente, teimoso que sou em desacreditar. Prefiro concordar com Mário Quintana que o Tempo é uma invenção da Morte. Ele engole tudo para acabar com o que existe. E o Universo deve conter o Tempo para não ser engolido por ele. A poesia me é mais explicativa que a ciência ou a religião.

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Poema do Quitana sobre o Tempo:

AH! OS RELÓGIOS

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...

(Mário Quintana, in 'A Cor do Invisível')
    


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