domingo, 25 de janeiro de 2015

Os anos da juventude, comentários

(Geraldo Borges)


Durante a leitura do romance, Os Anos da Juventude, do autor Francisco Venceslau  dos Santos, editora Caetés, Rio de Janeiro, 2014, tive  a oportunidade de passear pelos confins do passado da década de sessenta, e fui aos pouco observando como o cenário de seu romance mudou, dando por isso mesmo  um significado  histórico e epocal ao seu livro. As ruas continuam com os mesmos nomes, mas as construções, os edifícios são outros,  com exceção de velho Liceu e da casa colonial do Barão de Gurgueia na praça Saraiva e da Casa Anísio Brito, a maioria dos velhos casarões foram derrubados para  servirem de estacionamento.   
        
Não existe mais a linha de ônibus  Centro – Tabuleta, já não existe as marcas de bicicleta importada: Bristol e Raleigh, nem muito menos o radio Sharp;  já não existe a famosa fábrica de guaraná Tufy, que ficava na descida da  Avenida Barão de Gurgueia, nem   existe também a falada fabrica de sabão, nem a velha redação do jornal O Dominical cujo endereço o autor marcou no texto, na rua Olavo Bilac número 1228,  esquina com a velha faculdade de Filosofia. Nem a loja e mercearia do Cícero, importante ponto de referência do bairro Vermelha. Não mais existem quintais, como esse do primeiro parágrafo do romance.

“Manhã de sol. Está  sentado numa cadeira de couro na janela da cozinha. Regala os olhos com a silhueta  de Raquel, a garota da casa ali perto, ela toma banho no quintal, e se arruma para ir ao colégio”.

O colégio é o velho Liceu responsável, em parte, pela formação intelectual do personagens do romance, e de muitos outros vultos da literatura piauiense.

Já não existe também a marca de cigarro Minister tão consumida pela classe média daquele tempo, nem também os dominicais banhos no rio Parnaíba, nem muito menos o bar Carnaúba,  onde se reunia a intelectualidade piauiense, já não existe mais o jornal do Comercio, nem as maquinas de datilografia, nem muito menos os rendez vous da Rua Paissandu; O Clube dos Diários adquiriu outra feição, virou um espaço cultural  acessível à classe media. O cinema Rex desapareceu. Não existe mais exibição de filme, nem fila na bilheteria, nem pipoqueiro na calçada, nem muito menos pôster de grandes astros e estrelas que deram glamour  aquela época. O  Theatro 4 de Setembro perdeu a função de cinema.


Quanto à segunda parte do romance, decorre no Rio  de Janeiro, obedecendo  o enredo romanesco do filho da província que se muda para a metrópole em busca do sucesso. A história se desenvolve num cenário, que, com certeza, também mudou. Pois durante a época da ditadura  a febre de urbanização atingiu ao limite máximo. Tomemos, como exemplo a construção da ponte Rio  Niterói,  e a derrubada do Calabouço.

“De madrugada, o grupo descobriu escavadeiras, guindastes e tratores que avançavam na noite silenciosa, na avenida. Então Jane  dirigida por ele focou ao vivo o combate das máquina contra os muros do antigo restaurante do Calabouço, que sob os holofotes parecia uma antiga fortaleza palestina.”

A ditadura mudou todo o aspecto urbano e social do País em busca de uma nova arquitetura.

Além da sua permanência do Rio de Janeiro,  o personagem principal do romance vai até Paris, o sonho de todo escritor brasileiro. E contempla monumentos históricos seculares E passeia por logradores famosos. Em resumo o livro de Francisco  Venceslau  dos Santos é um registro de mudanças e transformações pelas quais passou  a sociedade brasileira em busca da modernidade.


No que diz respeito à carpintaria do romance é bem estruturado.  Capítulos curtos. Atmosfera cinematográfica, detalhada discrições Talvez um pouco de exagero nos diálogos, o que é normal na configuração de personagens jovens. Particularmente  esta é a minha leitura. Mas cada leitor é um leitor. O importante é conferir.




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