(Geraldo Borges)
Durante a leitura do romance, Os Anos da Juventude, do autor Francisco Venceslau dos Santos, editora Caetés, Rio de Janeiro, 2014,
tive a oportunidade de passear pelos
confins do passado da década de sessenta, e fui aos pouco observando como o
cenário de seu romance mudou, dando por isso mesmo um significado histórico e epocal ao seu livro. As ruas
continuam com os mesmos nomes, mas as construções, os edifícios são
outros, com exceção de velho Liceu e da casa
colonial do Barão de Gurgueia na praça Saraiva e da Casa Anísio Brito, a
maioria dos velhos casarões foram derrubados para servirem de estacionamento.
Não existe mais a linha de ônibus Centro – Tabuleta, já não existe as marcas de
bicicleta importada: Bristol e Raleigh, nem muito menos o radio Sharp; já não existe a famosa fábrica de guaraná
Tufy, que ficava na descida da Avenida
Barão de Gurgueia, nem existe também a falada fabrica de sabão, nem a
velha redação do jornal O Dominical cujo endereço o autor marcou
no texto, na rua Olavo Bilac número 1228, esquina com a velha faculdade de Filosofia.
Nem a loja e mercearia do Cícero, importante ponto de referência do bairro
Vermelha. Não mais existem quintais, como esse do primeiro parágrafo do
romance.
“Manhã de sol. Está sentado numa cadeira de couro na janela da
cozinha. Regala os olhos com a silhueta
de Raquel, a garota da casa ali perto, ela toma banho no quintal, e se
arruma para ir ao colégio”.
O colégio é o velho Liceu responsável, em parte, pela
formação intelectual do personagens do romance, e de muitos outros vultos da
literatura piauiense.
Já não existe também a marca de cigarro Minister tão
consumida pela classe média daquele tempo, nem também os dominicais banhos no
rio Parnaíba, nem muito menos o bar Carnaúba,
onde se reunia a intelectualidade piauiense, já não existe mais o jornal
do Comercio, nem as maquinas de datilografia, nem muito menos os rendez vous da
Rua Paissandu; O Clube dos Diários adquiriu outra feição, virou um espaço
cultural acessível à classe media. O
cinema Rex desapareceu. Não existe mais exibição de filme, nem fila na
bilheteria, nem pipoqueiro na calçada, nem muito menos pôster de grandes astros
e estrelas que deram glamour aquela época. O Theatro 4 de Setembro perdeu a função de
cinema.
Quanto à segunda parte do romance, decorre no Rio de Janeiro, obedecendo o enredo romanesco do filho da província que
se muda para a metrópole em busca do sucesso. A história se desenvolve num
cenário, que, com certeza, também mudou. Pois durante a época da ditadura a febre de urbanização atingiu ao limite máximo.
Tomemos, como exemplo a construção da ponte Rio
Niterói, e a derrubada do
Calabouço.
“De madrugada, o grupo descobriu escavadeiras, guindastes e
tratores que avançavam na noite silenciosa, na avenida. Então Jane dirigida por ele focou ao vivo o combate das
máquina contra os muros do antigo restaurante do Calabouço, que sob os
holofotes parecia uma antiga fortaleza palestina.”
A ditadura mudou todo o aspecto urbano e social do País em
busca de uma nova arquitetura.
Além da sua permanência do Rio de Janeiro, o personagem principal do romance vai até
Paris, o sonho de todo escritor brasileiro. E contempla monumentos históricos
seculares E passeia por logradores famosos. Em resumo o livro de Francisco Venceslau
dos Santos é um registro de mudanças e transformações pelas quais
passou a sociedade brasileira em busca
da modernidade.
No que diz respeito à carpintaria do romance é bem
estruturado. Capítulos curtos. Atmosfera
cinematográfica, detalhada discrições Talvez um pouco de exagero nos diálogos,
o que é normal na configuração de personagens jovens. Particularmente esta é a minha leitura. Mas cada leitor é um
leitor. O importante é conferir.
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