Agora retrospectivas de dez em dez anos para homenagear o
fato de que dois e dois são cinco. Em 1930 Rachel de Queiroz escreveu o 15
sobre a seca do nordeste naquele ano. Estamos em 2015 e a única certeza que
tenho é que não morri cedo, como queria o poeta. Portanto, de lá pra cá,
falemos do que vivi ou devia de ter. Em 1925 a coluna Prestes sitiou Teresina
do Natal ao Ano Novo e Juarez Távora é capturado ou se entregou às forças
legalistas do Piauí. Em 1935 a intentona comunista tornou-se a aventura mais
derrotada numa briga dos tenentes que marcharam juntos na Coluna de 10 anos
anteriores. Em 1945 acabava a guerra mundial, a ditadura Vargas e nem sei se
seu Moisés conhecia a dona Águeda, mas a guerra tinha acabado na Europa e eu
nem existia ainda nos Palmeirais. Em 55 começava a guerra do Vietnam e eu ainda
não entendia nada. Em 1965 os Beatles receberam o título de cavaleiros ingleses
e éramos todos felizes até matarem o Edson Luiz e lembrar que o golpe iria
durar muito mais que nossa juventude. Em 1975 cheguei ao Rio de Janeiro, o Rio
e a Guanabara se fuderam num só estado, a ditadura estava em plena atividade
reforçada pela deposição e assassinato do Allende e incremento da ditadura de
Pinochet . Em 1985 a ditadura acabou, mas a gente teve que engoli o Sarney, que
não tem coragem de morrer até hoje. Em 1995 a Socialdemocracia de fachada toma conta do
poder e atende os predicados do Consenso de Washington começando a venda do
templo e entregando o patrimônio público. Um terremoto no Japão sacode a ilha
daquele povo miúdo, o que acontece de vez em quando. Em 2005 ainda estávamos
sacudidos pelo atentado de 11 de setembro de 2001, quando, entre nós, um
deputado da base aliada de um governo, que era a esperança do povo brasileiro,
denuncia que membros do partido pagavam
uma mesada e inicia o escândalo que ficou conhecido como mensalão e vem rolando
até hoje, mostrando as entranhas de uma corrupção sistêmica. Morre um papa que
vai ser santificado e assume um outro mais reacionário, que inventa a renúncia
e permite o surgimento de um papa argentino que é uma liderança mundial. E em
2015, cá estamos com a maior seca no sudeste, que nos ameaça com falta d’água
nas torneiras e promete ser o 15 do sul maravilha. O mar vai virar sertão. Raul
Castro e Obama fazem as pazes sob as bênção do papa Chico, que faz seu primeiro
milagre e caminha para se tornar a maior liderança desses novos tempos. Um
papa? Também não acreditei, como não queria acreditar na seca do sudeste.
Espero que apareça uma nova Raquel para escrever o 15 do novo século.
Ué, já se passaram cem anos?
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