domingo, 25 de janeiro de 2015

O QUE ELES TÊM EM COMUM


(Geraldo Borges)

Em uma manhã  nublada prometendo chuva, retirei-me, com o espírito retraído, para o recinto de minha biblioteca, E comecei a visitar os meus hospedes, quer dizer, os meus autores predileto; tudo isso para fugir ao tédio que me enferrujava a alma. Pois já estava chovendo dentro de mim.

O primeiro livro que me chamou  à atenção, com a sua lombada cor de ouro, foi A Lua e as Fogueiras de Cesare Pavese, autor italiano, neo realista, um dos clássicos modernos da minha preferência. Tirei – o da estante, delicadamente, como tinha aprendido com minha professora, bibliotecária. Eu acho que o autor nem notou, a não ser   quando  comecei a ler o livro:

“O bom desses tempos era que tudo se fazia de acordo com  as estações, e cada estação tinha seus costumes e seus jogos, conforme os trabalhos  e as colheitas, a chuva ou o sol.”

Botei o romance  delicadamente em cima da mesa e reservei para uma próxima releitura.

O próximo autor que me chamou a atenção foi Stefan Zweig, que estava na mesma prateleira. Trata se  do escritor austríaco  perseguido pelo nazismo e que veio refugiar – se no Brasil, na cidade  de Petrópolis. Chamou – me atenção pela biografia de Maria Stuart, livro que eu já ii e agora punho  o também de reserva para uma futura visita. O estilo de Stefan Zweig é  magnífico e dramático, vale a pena  ler um pouco de suas palavras na orelha do livro.

“Somente quando um ente humano por em jogo todas as suas forças, está realmente vivo para si e para os outros; somente quando dentro dele a alma arde, é que se exterioriza  sua personalidade.”

Agora encontro Pedro Nava, mineiro, um clássico de nossa literatura. Autor  de Baú de Ossos, memórias de seus antepassados  Preciso  voltar ao convívio de suas páginas. Tenho um especial afeto pelo estilo barroco desse grande escritor brasileiro, é uma boa companhia. Tiro o da estante com todo cuidado, como quem está conduzindo um sarcófago, e deixo - o jazer em cima da mesa, sem antes, é claro, não  passar uma vista de olhos pelo inicio do primeiro capitulo do livro:

“- Eu sou um pobre homem do Caminho Novo das Minas dos Matos Gerais.”

 Vislumbrei na mesma prateleira o titulo: - O sol também se levanta de Hemingway, romance que sempre me impressionou. Reservei – o também para uma nova leitura Hemingway é um dos meus autores prediletos desde   os tempos de Por quem os sinos dobram, Adeus as Armas, e o Velho e o mar.O Sol também se levanta é um livro sinistro, cheio de sangue,  touradas e bebedeiras. E que conta a história de uma geração perdida, desfrutável, logo depois da primeira Grande Guerra. Consegui  pescar, em forma de diálogo, as seguintes frases do romance ao manuseá-lo alheatoriamente, antes de reservá-lo sobre a minha mesa.

“Essa champanha é boa demais para brindes, querida, Não queria misturar emoções. Com um vinho como este. Perde o sabor.”


Pavese, Stefan  Zweig, Pedro Nava, Hemingway, o que esses autores têm em comum, cada qual escrevendo em uma língua diferente? Talvez a sensibilidade  exagerada. Todos suicidaram – se. Mas seus corpos e mentes estão vivos  e exultantes nas páginas de seus livros que me distraíram e me fizeram pensar  nessa tarde nublada que promete chuva..






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