(Geraldo Borges)
Em uma manhã nublada
prometendo chuva, retirei-me, com o espírito retraído, para o recinto de minha
biblioteca, E comecei a visitar os meus hospedes, quer dizer, os meus autores
predileto; tudo isso para fugir ao tédio que me enferrujava a alma. Pois já
estava chovendo dentro de mim.
O primeiro livro que me chamou à atenção, com a sua lombada cor de ouro, foi
A Lua e as Fogueiras de Cesare Pavese, autor italiano, neo realista, um dos
clássicos modernos da minha preferência. Tirei – o da estante, delicadamente,
como tinha aprendido com minha professora, bibliotecária. Eu acho que o autor
nem notou, a não ser quando
comecei a ler o livro:
“O bom desses tempos era que tudo se fazia de acordo
com as estações, e cada estação tinha
seus costumes e seus jogos, conforme os trabalhos e as colheitas, a chuva ou o sol.”
Botei o romance delicadamente
em cima da mesa e reservei para uma próxima releitura.
O próximo autor que me chamou a atenção foi Stefan Zweig,
que estava na mesma prateleira. Trata se
do escritor austríaco perseguido
pelo nazismo e que veio refugiar – se no Brasil, na cidade de Petrópolis. Chamou – me atenção pela
biografia de Maria Stuart, livro que eu já ii e agora punho o também de reserva para uma futura visita. O
estilo de Stefan Zweig é magnífico e
dramático, vale a pena ler um pouco de
suas palavras na orelha do livro.
“Somente quando um ente humano por em jogo todas as suas
forças, está realmente vivo para si e para os outros; somente quando dentro dele
a alma arde, é que se exterioriza sua
personalidade.”
Agora encontro Pedro Nava, mineiro, um clássico de nossa
literatura. Autor de Baú de Ossos,
memórias de seus antepassados Preciso
voltar ao convívio de suas páginas. Tenho um especial afeto pelo estilo
barroco desse grande escritor brasileiro, é uma boa companhia. Tiro o da
estante com todo cuidado, como quem está conduzindo um sarcófago, e deixo - o
jazer em cima da mesa, sem antes, é claro, não passar uma vista de olhos pelo inicio do
primeiro capitulo do livro:
“- Eu sou um pobre homem do Caminho Novo das Minas dos Matos
Gerais.”
Vislumbrei na mesma
prateleira o titulo: - O sol também se levanta de Hemingway, romance que sempre
me impressionou. Reservei – o também para uma nova leitura Hemingway é um dos
meus autores prediletos desde os tempos
de Por quem os sinos dobram, Adeus as Armas, e o Velho e o mar.O Sol também se
levanta é um livro sinistro, cheio de sangue, touradas e bebedeiras. E que conta a história
de uma geração perdida, desfrutável, logo depois da primeira Grande Guerra.
Consegui pescar, em forma de diálogo, as
seguintes frases do romance ao manuseá-lo alheatoriamente, antes de reservá-lo
sobre a minha mesa.
“Essa champanha é boa demais para brindes, querida, Não
queria misturar emoções. Com um vinho como este. Perde o sabor.”
Pavese, Stefan Zweig,
Pedro Nava, Hemingway, o que esses autores têm em comum, cada qual escrevendo
em uma língua diferente? Talvez a sensibilidade
exagerada. Todos suicidaram – se. Mas seus corpos e mentes estão vivos e exultantes nas páginas de seus livros que
me distraíram e me fizeram pensar nessa tarde
nublada que promete chuva..
Nenhum comentário:
Postar um comentário