domingo, 27 de outubro de 2013

3 em 1: Alface de piranha, gravidade e donde tu rái?

(Edmar Oliveira)

1.

 Quando os meninos pequenos começavam "a se entender por gente" tomando banho nas águas do Parnaíba o medo maior era do Candiru. O peixe tinha a fama de entrar nas intimidades de quem estivesse nu. Mas nunca vi um caso, o medo era de ouvir falar. Tomando banho vestido o medo era da piranha e ninguém se atrevia a entrar nas águas do rio com um ferimento de sangue que atraísse o peixe. E uma delas me meu uma mordida no dedo quando tentei desenganchar a miúda do anzol. A gente tinha que botar um arame que ligava o anzol à linha, pois do contrário ela comia a isca com anzol e tudo, cortando a linha com os dentes afiados. Mais o peixinho dos dentes ameaçadores quando frito no azeite de coco babaçu era uma iguaria que sinto saudade e água na boca. A expressão “boi de piranha” já me dava medo, imaginando o boi que seria sacrificado ao cardume para que a boiada pudesse atravessar o rio. Pois não é que descobriram agora uma nova espécie de piranha na Amazônia? E, pasmem, a bicha é vegetariana, só come o capim mergulhado nas águas com a mesma voracidade de seu parente carnívoro. Ela tem até nome latino: “Tometes camunari” e foi achada no Rio Trombetas no Pará. Fiquei comigo imaginando, e se o Rio tem o nome por causa das trombetas alucinógenas, flor de árvore com que se fazia chá nos anos 1970? Vai ver que as piranhas comeram a flor e ficaram doidonas, comendo capim na larica.

2.

 Fui ver “Gravidade”, filme em 3D, porque um amigo comentou que era um filme espetacular, uma espécie de 2001 da modernidade. Não gostei. Foi o meu primeiro 3D. Mas confesso que não fiquei encantado. A tecnologia do filme é louvável. Cenário, a falta de gravidade, mesmo com um capacete descomunal para a gente saber quem são os dois atores. Mas a Bullock de calcinha e camiseta na nave soa inverossímil. O 3D não me foi surpresa. Eu já o conhecia desde quando morei em Codó. A lojinha  que vendia gibi recebeu, certa feita, uma revistinha colorida que era acompanhada de um óculos de papel crepom com um olho azul e outro vermelho. Os desenhos da revista eram borrados e a gente não conseguia ler. Tava tudo embaralhado. Parecia que a revista tava com defeito. Quando a gente botava os óculos as coisas iam pro lugar parecendo ficar em três dimensões. Alguém aí se lembra destas revistinhas? Eu, que era alucinado por quadrinhos, lembro bem. Não pegou. É essa a tal tecnologia da modernidade. Tire os óculos e a tela vira a minha revistinha da infância. Interessante terem recuperado um truque antigo. Claro que com as novas tecnologias de filmagens, os objetos passeiam na sala de cinema. Mas o filme não se sustenta só com o truque. A mocinha escapa do perigoso espaço sideral, usando até um extintor para fazer manobras perigosas para quase morrer afogada no final. Ridículo. Não tem a menor importância contar o final, o filme não tem um argumento consistente. Faltou um ataque de piranhas. Vai ver que as piranhas em 3D preferem alface.

3.

 Uma equipe americana tá fazendo um filme sobre a infância e juventude de Pelé. Já acharam o pai do jogador que vai ser interpretado por Seu Jorge, o cantor que mora atualmente nos Estados Unidos. Estavam procurando um garoto de 17 e outro de 5 anos que falassem inglês como o seu Jorge e vivessem o rei do futebol de criança até a copa de 1958. Dois pretos pobres da periferia falando inglês. Não acharam. Os dois selecionados estão tendo aula de inglês para algumas falas no filme. Acontece que o filme é americano e em cinema americano todos falam a língua deles. Lembram dos filmes bíblicos da Metro, onde Moisés já falava inglês? Tô doido é para assistir o “Cine Hollyúdy” que é todo falado em cearês e tem legenda até para os outros estados do Brasil. Nóis aí do lado vai entender tudim. Agora a rapaziada do sul maravilha que confira a tradução. Nós também já fala em ingrês, homi de Deus. Quando o caba diz “donde tu rái”, “donde tu rém”, num soa ingrês purim? O Falcão jura que fala. E vai ver que essa piranha vegetariana é uma experiência de Hollywood pro peixe trabalhar em filme americano. Né não, macho réi?

2 comentários:

Anônimo disse...

Ainda bem, Edmar, que você falou "donde tu rái", que se uma pessoa me chama " rão bóra", eu na minha carioquice já ia logo perguntar "mermo?"; uma perdição esse nordestinês.

Lelê

Sara disse...

Acho que o que eu gostaria de experimentar mais do que isso é o prato de salada, espero que em algum momento você pode desfrutar de uma salada especial e pronto para mim, então eu vou encontrar onde você pode comer no site restorando