domingo, 13 de outubro de 2013

Barragens no Rio Parnaiba

(Geraldo Borges)


Nunca pensei que um dia o cenário onde brinquei quando criança estivesse ameaçado  de ser coberto pelas águas de uma barragem. Pois é isso leitor. O poder desenvolvimentista do estado está com um projeto de construir uma barragem no médio Parnaíba, na altura da fazenda Casteliano. E essa construção vai inundar uma boa parte das terras ria bacia do  rio Parnaíba. Um furacão. Flora e fauna ameaçada.

Quando eu era menino, na década de  cinquenta ninguém sonhava com luz elétrica no interior, enxergávamos o nosso pequeno mundo infantil com luz de lamparina, lampião, e no máximo petromax. No nordeste, principalmente no Piauí, vivíamos ainda uma economia pré capitalista, e, no interior o que predominava era a economia de subsistência. Ninguém sonhava com barragem.

Em Teresina existia uma usina  termo elétrica tocada a lenha, que ficava na beira do rio. Dava para o gasto, com luz até as nove horas da noite

Na década de sessenta, com o golpe, o capitalismo, começou a dar as caras com maior expressão; por estes rincões; os vapores gaiolas foram substituídos pelos carros, mais velozes, abriram-se  estradas, e deram inicio a uma barragem no alto Parnaíba, na região de Floriano pela construtora Mendes Junior. Eu estive lá no canteiro de obras e vi a parafernália que representava a luta pelo desenvolvimento econômico. Engenheiros e operários, cada qual  dando conta de seu recado. Saí de la impressionado. A barragem quase não termina. Para falar a verdade nunca terminou. Claro que foi inaugurada, e está iluminando muitos lares e tocando fabricas. Digo, nunca terminou, por que nunca terminaram as eclusas, ou terminaram? Por falta delas  a barca do sal de nosso governador mirabolante nunca passou de Floriano. Quer dizer, também, nunca foi terminada. Pois não alcançou o seu objetivo.

Agora querem construir outra barragem sobre o dorso do velho monge cansado. Sugar o seu sangue já anêmico, raspar a sua barba, mudar o seu cenário, colocar debaixo d’ água  fazendas e fazendas, por em risco populações desavisadas. Acho que ainda é tempo de esquecer esse projeto. Por que não criar um programa para terminar obras abandonadas, existentes, por esse país a fora; Mas, na luta do perde e ganha, alguém vai sair lucrando com essa barragem.

E preciso muito cuidado. No frigir dos ovos uma barragem é um risco anunciado. Principalmente em um país chamado Brasil, onde não podemos meter a mão no fogo  pelos nossos governantes.

 Construir uma barragem nos tempos de hoje é uma empreitada traumática, é como tocar fogo em um formigueiro. Muita miséria, muita desamparo. Temos o exemplo da barragem de Belo Monte uma saga de sofrimento que ninguém sabe onde vai parar. E o desvio do rio São Francisco? Um grande desvio  faraônico fruto da arrogância e vaidade dos  nossos governantes, quando há meios mais econômicos e mais fáceis de resolver  o problema da seca.

Que fazer? Não é exagero dizer que a construção dessa barragem ameaça até mesmo a periferia de Teresina, que em vez de ficar inundada de  luz ficará inundada de água. Bem. O único jeito de evitar tudo isso é demolir a barragem antes dela sair do papel fazendo uma grande mobilização popular contra tal famigerado projeto. Pode não dar em nada, como sempre acontece. Mas, pelo menos, mostra a repulsa que o povo tem por esta mania de construir barragens, empreendimento que já devia ter sido descartado do projeto do capitalismo, que fala tanto de desenvolvimento sustentável...

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