Nunca pensei
que um dia o cenário onde brinquei quando criança estivesse ameaçado de ser coberto pelas águas de uma barragem.
Pois é isso leitor. O poder desenvolvimentista do estado está com um projeto de
construir uma barragem no médio Parnaíba, na altura da fazenda Casteliano. E
essa construção vai inundar uma boa parte das terras ria bacia do rio Parnaíba. Um furacão. Flora e fauna
ameaçada.
Quando eu era
menino, na década de cinquenta ninguém
sonhava com luz elétrica no interior, enxergávamos o nosso pequeno mundo
infantil com luz de lamparina, lampião, e no máximo petromax. No nordeste, principalmente
no Piauí, vivíamos ainda uma economia pré capitalista, e, no interior o que
predominava era a economia de subsistência. Ninguém sonhava com barragem.
Em Teresina
existia uma usina termo elétrica tocada
a lenha, que ficava na beira do rio. Dava para o gasto, com luz até as nove
horas da noite
Na década de
sessenta, com o golpe, o capitalismo, começou a dar as caras com maior
expressão; por estes rincões; os vapores gaiolas foram substituídos pelos
carros, mais velozes, abriram-se
estradas, e deram inicio a uma barragem no alto Parnaíba, na região de
Floriano pela construtora Mendes Junior. Eu estive lá no canteiro de obras e vi
a parafernália que representava a luta pelo desenvolvimento econômico. Engenheiros
e operários, cada qual dando conta de
seu recado. Saí de la impressionado. A barragem quase não termina. Para falar a
verdade nunca terminou. Claro que foi inaugurada, e está iluminando muitos
lares e tocando fabricas. Digo, nunca terminou, por que nunca terminaram as
eclusas, ou terminaram? Por falta delas
a barca do sal de nosso governador mirabolante nunca passou de Floriano.
Quer dizer, também, nunca foi terminada. Pois não alcançou o seu objetivo.
Agora querem
construir outra barragem sobre o dorso do velho monge cansado. Sugar o seu
sangue já anêmico, raspar a sua barba, mudar o seu cenário, colocar debaixo d’
água fazendas e fazendas, por em risco
populações desavisadas. Acho que ainda é tempo de esquecer esse projeto. Por que
não criar um programa para terminar obras abandonadas, existentes, por esse
país a fora; Mas, na luta do perde e ganha, alguém vai sair lucrando com essa
barragem.
E preciso
muito cuidado. No frigir dos ovos uma barragem é um risco anunciado.
Principalmente em um país chamado Brasil, onde não podemos meter a mão no
fogo pelos nossos governantes.
Construir uma barragem nos tempos de hoje é
uma empreitada traumática, é como tocar fogo em um formigueiro. Muita miséria,
muita desamparo. Temos o exemplo da barragem de Belo Monte uma saga de
sofrimento que ninguém sabe onde vai parar. E o desvio do rio São Francisco? Um
grande desvio faraônico fruto da
arrogância e vaidade dos nossos
governantes, quando há meios mais econômicos e mais fáceis de resolver o problema da seca.
Que fazer? Não é
exagero dizer que a construção dessa barragem ameaça até mesmo a periferia de
Teresina, que em vez de ficar inundada de
luz ficará inundada de água. Bem. O único jeito de evitar tudo isso é
demolir a barragem antes dela sair do papel fazendo uma grande mobilização
popular contra tal famigerado projeto. Pode não dar em nada, como sempre
acontece. Mas, pelo menos, mostra a repulsa que o povo tem por esta mania de
construir barragens, empreendimento que já devia ter sido descartado do projeto
do capitalismo, que fala tanto de desenvolvimento sustentável...
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