domingo, 27 de outubro de 2013

A cultura grega

(Geraldo Borges)
 
As pessoas quando ouvem alguma coisa que não entendem dizem  ele está falando grego. Engraçado. Pois é. Todo mundo no ocidente fala grego, e é entendido. A maioria não sabe que esta falando grego. Mas, as palavras que pronunciamos em nosso cotidiano, no geral, quando não são de origem latina, são de origem grega. Vejamos este trecho de Leminsky:

               “O imaginário  greco-latino impregnou de tal forma a vida do ocidente que nem  notamos quando recorremos a ele. ‘jovial’ quer dizer ‘de jove’, isto é de Jupitar. ‘Veneno’, de Venus, é, na origem, uma poção mágica amorosa. Da mesma origem, ‘veneno’ e ‘venéreo’. ’Hermético’ é coisa do deus Hermes, o deus sagaz, senhor das interpretações. Nossa linguagem corrente está  coalhada  de alusões ao mundo do mito grego.”

               Isto é apenas uma mostra. Mas tem muita mais. E se fossemos citar encheremos a pagina inteira. O cinema a literatura, as histórias em quadrinhos se encarregaram de popularizar a mitologia grega. Até os cordelista se alimentam de sua substância, juntamente com o universo católico de santos e demônios. A mitologia grega tem atravessado os séculos, é bem mais antiga que o cristianismo. Que de certo modo via Platão bebeu na cultura grega: Zeus e Iesus. Não deixam de ser nomes parecidos. Marx, filosofo, economista e historiador de vasta cultura, não conhecia apenas os clássicos da literatura ocidental.  Estava, também, familiarizado, com a mitologia grega. O seu herói predileto, era Prometeu aquele que roubou o fogo do céu desafiando a ira do  pai dos deuses, e proporcionando ao homem um salto na história da civilização. Freud foi outra grande figura que se valeu da mitologia grega descobrindo arquétipos para o estudo do subconsciente. Eis o que ele diz. “Foram os poeta e filósofos muito antes de mim que descobriram o inconsciente. O que eu descobri foi o método científico  pelo qual o inconsciente pode ser estudado”.

 Bendita mitologia  que começou com a oralidade e que fertiliza a imaginação dos poetas.  Livros, tais como a Iliada e a Odisséia, são eixos básicos para qualquer estudante de literatura que se proponha a uma viagem pelo mundo do imaginário grego. Mas não fica apenas por aí. Todo teatro grego, o que sobrou, é uma fonte de inspiração para os modernos. E todos nos conhecemos as ricas metáforas nascidas da fabulação grega. Como, por exemplo: presente de grego. Cavalo de Troia. Troiado.

Só indo à Grécia amigo, subindo a Acrópole, visitando o  monte Olimpio. E para deleite  tagarelar com os deuses e ouvir as suas histórias, que são inumeráveis. E também dando nuvens a imaginação, pode-se encontrar   com Sócrates na hora em que ele bebeu cicuta, ver Platão, por ali escrevendo o Banquete. Aristóteles escrevendo a sua Poética. Narciso caindo dentro de uma fonte e se transformando em uma flor. Cupido fazendo suas brincadeiras de amor com arco e flecha. Medusa, monstruosa, com suas serpentes na  cabeça. Edipo decifrando o enigma da esfinge, que desesperada se lança ao abismo. Arquimedes saindo da banheira e correndo nu  em pêlo,  pelo meio da rua gritando. Eureka. Eureka. Heraclito dizendo ninguém toma banho duas vezes no mesmo rio O conhecimento da mitologia grega é inesgotável porque tem como alavanca a imaginação. E se alimenta de sua própria metamorfose fecundando novos textos literários.

Do centauro Quirão deriva a palavra quiromancia, leitura das mãos, magia, e daí surge o termo cirurgião, cirurgia,  quem tem habilidade com as mãos para operar pessoas e animais. Grego. Quase tudo é grego embora nem todo mundo entenda. Caligrafia, por exemplo, quer dizer, escrever com letras bonitas, grafar, grafite.

Mas para fechar a cortina deste pequeno passeio pelo mundo grego nada melhor do que se lembrar dos poetas trágicos: Esquilo, Sófocles e Eurípedes, e também do comediante Aristófanes. E de Plutarco um dos primeiros biógrafos da antiguidade. Graças a mitologia grega temos hoje uma literatura  excelente expressada e derivadas do étimo grego e latino. Pois toda literatura nasce do mito e da lenda. E para citar mais uma vez Leminski: “Fatos não se explica com fatos, fatos se explicam com fábulas. Daí a necessidade da narrativa com todo o seu potencial profético e  protéico da qual não passamos de meros personagens cada qual perdido no labirinto de seu enredo tentando matar o Minotauro que foi morto por Teseu”.

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