(Edmar Oliveira)
Conheci o mal ainda menino. Estudamos no Colégio Batista de
Teresina. Mas ele foi, no quarto ano, para Recife, como acontecia sair de
Teresina os filhos da elite piauiense. Como eu fiquei, tinha notícias dele por
um amigo que saiu junto com ele. Na Veneza brasileira conseguiu a ponte para
vir a ser o que seria: foi oficial de gabinete do vive governador nomeado pela
ditadura militar. Ali despertava seu gênio. Foi um dos fundadores nacionais da
Arena Jovem, braço partidário do governo militar. Missão dos jovens militantes:
arregimentar simpatizantes da ditadura, construindo o arcabouço do pensamento
de direita, em contraponto aos militantes da esquerda que eram torturados e
morriam nos porões da ditadura. Eu que simpatizava com a esquerda tinha asco do
meu colega que babava os poderosos e passava a ser um dedo duro, tão temido por
quem era contrário a ditadura sanguinária.
Enquanto nós vivíamos o medo dos anos de chumbo, meu
gorducho colega já tinha cargos em Brasília no INCRA, que operava em nome do
agronegócio e contra a reforma agrária, depois na EBTU empresa que enterrava a
rede ferroviária nacional, facilitando a indústria automobilista. Enquanto nós
perdíamos direitos e liberdade ele ganhava prestígio pessoal.
De volta ao Piauí tentou ser deputado federal pela ARENA. Não
se elegeu, mas ficou como suplente, sendo efetivado pela morte providencial de um deputado
eleito que lhe abriu a vaga. Com a extinção da ARENA na abertura, ele foi para
o PP, substituto natural da direita oficial. Mas eram tempos de abertura,
portanto ele flertou com o PMDB, tendo conseguido entrar no partido seduzindo o
velho Ulisses Guimarães com jantares onde servia capote, capão cheio, bode no
leite de coco, cajuína e mangueira trazidos do Piauí. O velho glutão e bom de
copo, pai da constituinte, deixou escancaras as portas do partido de oposição
para o antigo militante da direita. Foi eleito para deputado estadual por três
mandados e, nessa condição, foi vice-líder do governo Sarney e Secretário da mesa
diretora da Câmara. O último mandado já foi pelo PFL, sua casa herdeira da
ARENA e do PP. Ainda no PMDB foi eleito prefeito de Teresina com uma aliança
com Wall Ferraz. Saiu para o PDT e chegou ao PFL, depois DEM onde permaneceu
mandando na política e sendo eleito senador até ser expulso do quadro político
do Piauí por um indiozinho vindo de Oeiras, que ousou desbancar o nosso
conhecido na companhia de Mão Santa e outros mandatários da Capitania Hereditária
do sertão.
Achei que o sapo tinha morrido afogado. Passado o primeiro
decênio do século XXI as ideologia se misturaram de uma tal maneira que o nosso
velho conhecido volta, com a boca cheia, filiado ao Partido Socialista
Brasileiro, partido que tomou o nome de Arraes em vão, fazendo o avô
estrebuchar na cova quando o neto avacalha quaisquer resquícios socialistas em
nome do poder. Esse partido, que abrigou uma Marina que não conseguiu armar sua
rede com sustentabilidade, hoje está cheio de evangélicos, amantes da “cura gay”,
reacionários de todos os matizes e pode abrigar com conforto o nosso desafeto
desde menino. O mal venceu!
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desenhos de Izânio Façanha
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