domingo, 13 de outubro de 2013

A TRAJETÓRIA DO MAL


(Edmar Oliveira)

Conheci o mal ainda menino. Estudamos no Colégio Batista de Teresina. Mas ele foi, no quarto ano, para Recife, como acontecia sair de Teresina os filhos da elite piauiense. Como eu fiquei, tinha notícias dele por um amigo que saiu junto com ele. Na Veneza brasileira conseguiu a ponte para vir a ser o que seria: foi oficial de gabinete do vive governador nomeado pela ditadura militar. Ali despertava seu gênio. Foi um dos fundadores nacionais da Arena Jovem, braço partidário do governo militar. Missão dos jovens militantes: arregimentar simpatizantes da ditadura, construindo o arcabouço do pensamento de direita, em contraponto aos militantes da esquerda que eram torturados e morriam nos porões da ditadura. Eu que simpatizava com a esquerda tinha asco do meu colega que babava os poderosos e passava a ser um dedo duro, tão temido por quem era contrário a ditadura sanguinária.
Enquanto nós vivíamos o medo dos anos de chumbo, meu gorducho colega já tinha cargos em Brasília no INCRA, que operava em nome do agronegócio e contra a reforma agrária, depois na EBTU empresa que enterrava a rede ferroviária nacional, facilitando a indústria automobilista. Enquanto nós perdíamos direitos e liberdade ele ganhava prestígio pessoal.
De volta ao Piauí tentou ser deputado federal pela ARENA. Não se elegeu, mas ficou como suplente, sendo efetivado pela morte providencial de um deputado eleito que lhe abriu a vaga. Com a extinção da ARENA na abertura, ele foi para o PP, substituto natural da direita oficial. Mas eram tempos de abertura, portanto ele flertou com o PMDB, tendo conseguido entrar no partido seduzindo o velho Ulisses Guimarães com jantares onde servia capote, capão cheio, bode no leite de coco, cajuína e mangueira trazidos do Piauí. O velho glutão e bom de copo, pai da constituinte, deixou escancaras as portas do partido de oposição para o antigo militante da direita. Foi eleito para deputado estadual por três mandados e, nessa condição, foi vice-líder do governo Sarney e Secretário da mesa diretora da Câmara. O último mandado já foi pelo PFL, sua casa herdeira da ARENA e do PP. Ainda no PMDB foi eleito prefeito de Teresina com uma aliança com Wall Ferraz. Saiu para o PDT e chegou ao PFL, depois DEM onde permaneceu mandando na política e sendo eleito senador até ser expulso do quadro político do Piauí por um indiozinho vindo de Oeiras, que ousou desbancar o nosso conhecido na companhia de Mão Santa e outros mandatários da Capitania Hereditária do sertão.
Achei que o sapo tinha morrido afogado. Passado o primeiro decênio do século XXI as ideologia se misturaram de uma tal maneira que o nosso velho conhecido volta, com a boca cheia, filiado ao Partido Socialista Brasileiro, partido que tomou o nome de Arraes em vão, fazendo o avô estrebuchar na cova quando o neto avacalha quaisquer resquícios socialistas em nome do poder. Esse partido, que abrigou uma Marina que não conseguiu armar sua rede com sustentabilidade, hoje está cheio de evangélicos, amantes da “cura gay”, reacionários de todos os matizes e pode abrigar com conforto o nosso desafeto desde menino. O mal venceu!
 
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desenhos de Izânio Façanha
 

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