domingo, 27 de outubro de 2013

Uma tarde no Botero


Nem Buarque, nem Mendes. Quero falar de outro Chico, o Salles.  Pra quem não o conhece, esse paraibano de Sousa é um militante de causas não perdidas, um guerrilheiro da caatinga na selva urbana carioca, um artista popular brasileiro em sua saga pela divulgação da cultura nordestina. Domingão no mercadinho São José, rua das Laranjeiras, no Botero, e lá está o Chico Salles e seu grupo apresentando pérolas de Gonzagão, de Jackson do Pandeiro, de Gordurinha e do próprio cantor, sim, por que Chico Salles também compõe no universo da cultura “borborêmica”, na cartilha da caatinga, do pé de serra.  Em tristes tempos de universitários maltratando a canção brasileira, sertanejos e forrozeiros amarelamente acadêmicos, eis que surge a voz do Chico explodindo em nuances do xaxado, do baião, do xote, do frevo, do samba. Radical no sentido mesmo de raiz, de medula, eis o Chico Salles levantando a poeira do chão, resgatando o mundo de Zé Limeira a Capiba, de Taperoá a Salvador, de Cachoeiro do Itapemirim a Exu. Evoé, Chico. Não é o Mendes, mas sua luta pela preservação da seiva da música popular brasileira é de impressionar. Fazer arte no Brasil é matéria mais que quixotesca, meu amigo, é uma espécie de doce suicídio a conta-gotas e Chico Salles, cabra arretado, não se faz de rogado, não tem medo de cara feia, de funk ou pagode, e enfia um belo xote guela abaixo do mercado devorador de poderosas. Não é o Buarque, mas castiga lá seus versos e melodias, embebidos na cachaça de cabeça de Campina Grande a Uiraúna, passando, é claro, por Sousa. Esse é o Chico Salles Araújo, compositor, cantor, poeta, cordelista, botafoguense (que ninguém é perfeito) e, acima de tudo, um nordestino carioca ou será um carioca nordestino?

(Leo Almeida)
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hoje (27/10) tem de novo: Mercadinho São José, Laranjeiras. Lá pelas 3 horas. Chico convida hoje Carlos Malta para comemorarem o aniversário do Durval, o zabumbeiro. Sempre no último domingo de cada mês. Desenho de Gervásio.

Um comentário:

Anônimo disse...


Mas a vida faz cada coisa...se estivesse aí não perdia esse Botero por nada. Arrebenta Chico Salles!

Lelê