Edmar Oliveira
Acabei de ler um pequeno grande livro. Trata-se de “apontamentos
para uma HISTÓRIA CRÍTICA DO CORDEL BRASILEIRO”. Pequeno porque o livro de
ADERALDO LUCIANO tem apenas 96 páginas, mas é de uma densidade de argumentações
que o tornam um grande livro.
Aderaldo destrói os mitos que cercam essa arte e se tornaram
verdades consagradas pelos próprios autores do Cordel. A partir de uma nomeação
de Silvio Romero sobre “literatura de Cordel” que circulava no nordeste,
similar a conhecida denominação portuguesa, apressadamente os estudiosos do
gênero filiaram o Cordel nordestino ao português. Parecia que a literatura de
Cordel atravessou o Atlântico para se espalhar no sertão nordestino. Aderaldo
corta aí o cordão umbilical da filiação direta, provando que quando Romero
escreve sua opinião se referia apenas aos livros portugueses que aqui chegaram –
reproduções baratas e parciais de obras do poeta Chiado ou do fabulista
Trancoso, entre outros, – não tendo parentesco com o que conhecemos como o nosso
Cordel, gênero literário nascido no árido sertão dos estados nordestinos muito
depois da definição de Romero. Os argumentos são sólidos e convincentes. Nomeia
Leandro Gomes de Barros como pai e maior escritor do Cordel brasileiro.
Mas Aderaldo não fica por aí. O doutor em Ciências da Literatura,
cuja tese de doutoramento na Universidade Federal do Rio de Janeiro resultou
nos “apontamentos” – embora modesto no título – destrói outras construções. Da
definição proposta por Veríssimo de Melo – “o cordel é poesia narrativa,
popular, impressa” – nada fica em pé. Aderaldo convence que o Cordel não é
apenas narrativo, discute brilhantemente a falácia entre os conceitos de
popular e erudito, ao mesmo tempo em que desbanca a característica do Cordel
pelo formato como é editado desde seu começo, além de argumentar que nem a
forma como ele é vendido caracteriza o gênero.
Nessas poucas páginas ainda sobra espaço para diferenciar o
Cordel da Cantoria e da poesia Sertaneja, para mais adiante encontrar o marco
fundador do nosso Cordel. Claro que Aderaldo com o nosso jeito de ser – sempre com
a peixeira à mão – desagrada escritores e os considerados historiadores da “literatura
de Cordel”. Essa denominação ele também ataca, chamando o gênero de Cordel sem
o “literatura de”, evidente que apresentando argumentos convincentes. Afinal um
livro que nasceu para ser polêmico, como é a própria figura do Aderaldo
Luciano. Mas os seus contendores terão que discutir contra-argumentos com o
Doutor do Cordel, pois a academia lhe deu esse título com louvor. E o homem é
chamado para aulas em vários locais, inclusive em universidades da Europa.
Embora admita que sua própria, dele Aderaldo, classificação
é embrionária, nos promete novos estudos nessa direção, o que – de minha parte –
aguardo ansiosamente.
Aderaldo Luciano atropelando os mitos do Cordel
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E atenção sertão do Piauí. Aderaldo Luciano viajará em
caravana para conhecer a Serra da Capivara – vai que ele descobre que as
cantorias começaram com as múmias de Niède Guidon! Fará uma passagem pela capital
do fundo do Sertão, a maravilhosa Oeiras, e será recepcionado pelo Anjo
Adarilho Joca Oeiras. Não é ainda dessa vez que ele conhecerá Teresina e o
Litoral – ou será?
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Existe uma página no FaceBook chamada “apontamentos para uma
história crítica do Cordel brasileiro” onde os interessados poderão saber como
adquirir o livro.
Um comentário:
Bela imagem em relação ao atropelamento, no mais concordo com as teses do Doutor Adrraldo Luciano.
Chico Salles.
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