domingo, 28 de abril de 2013

Cidade moderna


Edmar Oliveira
 
Uma reportagem, outro dia, trazia os arranha-céus que crescem desbragadamente nas capitais do nordeste e a geração de seus consequentes problemas. Parece que grandes prédios são sinônimos de desenvolvimento, mas a falta de infraestrutura e fatores climáticos complica a situação. A concentração de prédios e seus habitantes em uma pequena área, sem uma rede de abastecimento e esgoto adequada geram um despejo de esgoto em natura que, certamente, é responsável pela morte de nosso rio Poty em Teresina. Cisternas cada vez maiores e bombeamento de água ininterrupto, com certeza, contribuem para o escassez  de água potável. A devastação ambiental necessária à construção e a altitude dos prédios dificulta a circulação dos ventos e elevam a temperatura já quente da região.

Ao mesmo tempo vi, na TV, uma matéria sobre Masdar City. A cidade sustentável que os Emirados Árabes fazem no deserto de 40º. Projeto carbono zero para só usar energia natural. Todos os pequenos prédios (em altura) são cobertos por placas de energia solar. Além disso, há no deserto improdutivo uma área de mais de dez campos de futebol com placas solares e energia eólica. A cidade, mais perto do equador que Teresina, tem ruas estreitas (esperteza árabe que eu vi na Espanha) e no sentido sudeste-noroeste para que sejam sempre sombreadas. Em vários cruzamentos há torres altas que captam vento por pressão negativa e distribui pelas ruas, que os prédios arredondados ajudam a manter. Lembrei-me o velho Wilson aí de Teresina que dizia que só ia ventar na cidade quando encanassem o vento. Brincando, ele estava certo.

O que eu quero dizer é que chega de imitar os desenvolvidos do norte para sermos desenvolvidos também. Esse comportamento papagaio de imitação é deletério. Lembro-me dos prédios dos Correios e da Escola Técnica aí em Teresina que ficaram sem usar o último andar por causa do calor debaixo da laje, antes da banalização do ar condicionado. Quem mandou imitar o concreto armado de laje e forro baixo das construções modernistas do sul maravilha? Outro dia conheci a moderna arquitetura de um restaurante grã-fino aí de Teresina, todo em madeira e palha de carnaúba, que é uma delícia de se estar, mesmo sem ar condicionado. Eles imitaram a nossa arquitetura do interior. Hoje tem como preparar a palha para não queimar. A casa do arquiteto Amauri Barbosa toda em carnaúba (madeira e palha) com alguns elementos modernos é sensacional. Os projetos do Gerson Castelo Branco em Parnaíba, com forte influência indígena, exemplificam do que estou falando. Se o Amauri e o Gerson usassem placas de energia solar, estavam no conceito de Masdar City.  

Se é pra imitar, que se imite o futuro como Masdar. O nordeste, com sol o ano inteiro, pode plantar placas de energia solar em terras improdutivas, como verdadeiras fazendas árabes que vi na Espanha.  E os nossos arquitetos bem que podiam bolar prédios sustentáveis, com ruas estreitas sombreadas para recuperamos no futuro o nosso passado. Será que há tempo?

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Para ver Masdar (Fonte, em árabe):


 

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