domingo, 14 de abril de 2013

Um rapariga loura

Geraldo Borges

            Quando a vi pela primeira vez, não sei por qual associação de imagens, me lembrei da rapariga loura de Eça de Queiros, talvez por que  quando ela chegou aqui em casa eu acabara de ler o conto do autor. E, além do mais, era loira. Ela veio trabalhar em minha casa. Eu era solteiro, e estava precisando de uma criada para cuidar das coisas domesticas, e, também, limpar os meus livros, de vez em quando, para que não encham de tanta poeira.        
            Nos primeiros dias de trabalho tudo correu bem. Como eu vivia sozinho, na companhia de uma gata, não me importava em colocar os objetos em lugares ordenados, ficavam a vontade. Com a presença dela as coisas começaram a mudar. Falo isso, porque a minha bolsa vivia em cima do criado mudo dentro de meu quarto. Eu não tinha me dado conta que a minha personagem tinha singularidades de uma rapariga loira.

            Certo dia eu abri a minha  bolsa e dei por falta de dinheiro, a quantia não era tão grande. A minha gata não podia ser. Não precisava. Chamei a empregada para um diálogo. Ela fez beicinho. Tentou representar. Negou tudo. Disse até que eu poderia mandá-la embora.

            Dei-lhe mais uma oportunidade. Só que o caso aconteceu de novo. Dessa vez a quantia foi muito maior. O mais racional é que eu devia ter tirado a bolsa de cima do criado mudo e colocado em um lugar mais seguro, no bolso de minha calça.

             Mentiu-me de novo.

            Para falar a verdade eu já estava  começando a gostar dela. Não podia mandá-la embora. Por que não fiz isso logo na primeira vez?

             O caso era simples. Não adiantava chamar a policia. Em vez disso foi ao cartório e me casei com ela. E assim, resolvi a questão. Se ela quiser me furtar que furte, é como se tivesse furtando dela mesma. Só que de agora em diante viverá um uma prisão domiciliar.

 

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