para Ferreira Gullar
Que será do vento sem velas enfunadas
sem os cabelos soltos de Anna Beatriz?
Que é do perfume sem nariz?
Que será da coisa sem o homem,
do objeto sem magia e misticismo,
da estátua de São Judas Tadeu sem nossa fé,
do touro de bronze de Wall Street sem nossa ambição?
Que será do sol sem minha pele ardendo,
de Copacabana sem a puta e sem a dama
sem os passos do poeta pela santa,
do ar sem pulmões para entranhar,
da água sem quilhas para feri-la,
sem corpos para penetrá-la
sem sereias para sonhá-la?
Que é do mundo sem o humano tato,
sem a humana manipulação do barro?
Que é de Deus sem nossas preces,
sem a genuflexão amorosa e cheia de temor?
Que resta das cruzes sem os crucificados?
Que será da lua sem uivos e delírios
senão a força invisível das marés para ninguém?
Não! Sem nós nada existe mesmo existindo.
Nada, nada, um grande nada existe em nossa inexistência
Se um dia me perguntarem:
- O que se passa numa estrada sem viventes?
Direi com o espanto estampado nos meus dentes:
- Talvez o som de pegadas sem donos no oco do silêncio,
nos trilhos copulando seus dormentes,
a invenção de um homem que caminha lentamente...
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