domingo, 22 de maio de 2011

sessentinha

Edmar Oliveira
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Confesso: me fudi. Entrei no involuntário grupo da terceira idade, que só a ironia deslavada chama de melhor idade. E não há retorno possível. Portanto, relaxe e goza (se ainda for possível!)

Sabe quando os meninos começam a te chamar de tio? Aí você está entre os quarentas e cinqüentas primaveras. Foi doloroso, mas não imaginava nada pior. Veio “senhor”. Esse “senhor”, dito de forma imprópria, no teu perceber, soa alguma gozação, troça, pilheria de mau gosto. E você vai ficar com saudades de quando te chamavam de tio.

Outro dia encontrei com um amigo cineasta na anti-sala de exames de um laboratório. Não me contive: antes a gente se encontrava num bar, agora é aqui. E falamos, despudorozamente, de taxas de glicose, colesterol e do indefectível PSA, que nos lembra que tudo começou numa dedada há uma década.  

Se antes a gente separava uma quantia em dinheiro para ultrapassar, vez por outras, os chopes da rotina, hoje a reserva é para os medicamentos de uso contínuo, que só vão desaparecer do nosso convívio quando desaparecermos da face da terra. E eu compro tanto remédios, que já me deram, de brinde, uma caixinha com os dias da semana para guardar os remédios. Porque já com essa idade a gente costuma esquecer se já tomou o remédio de hoje. E corre o risco de não tomar o remédio, por esquecimento, fazendo a pressão subir e ficar exposto a um derrame; ou, tanto faz, tomar em dose dupla, também por esquecimento, e ter uma isquemia cerebral.

E, por essa idade, se você for a um médico, por qualquer bobagem, uma gripe, uma gastrite, recebe, como bônus pela a idade, uma bateria de exames em que vão aparecer problemas sérios. Isto é, aqui é possível você não sentindo nada descobrir que é um doente grave. Por isso eu corro de médicos como o diabo da cruz. Quem procura, acha, já nos dizia o dito popular.

Mas para tantas desgraças é preciso uma compensação. E tem? A gente pode fazer as contas de quanto já trabalhou e providenciar a aposentadoria. Confesso que fiz as minhas e já sobra tempo e ainda tenho meio ano de licença prêmio pra tirar. Isso é bom. Se a gente tiver o que fazer. Pois não fazer nada é meio insuportável. Portanto estou fazendo uns planos para ocupar o tempo de não fazer nada para entrar com o pedido de “basta, tô velho!”, em reconhecimento da situação que você pensava “nunca iria chegar”.

A minha passagem para a terceira idade foi no dia 11 de maio. Mas ela já tinha acontecido um pouco antes. Sabe quando caiu a ficha? A bonita recepcionista do banco sorriu pra mim e eu, todo prosa, também ensaiei  um sorriso re retribuição. A belezura me deu uma ficha de fila preferencial para que eu fosse atendido. Doeu.

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desenho luxuoso de Gervásio Castro

4 comentários:

João de Deus NETTO disse...

Genial!!! Daqui a cinco anos quando eu lembrar deste texto, vou rir a bandeiras despregadas... Caramba, já estou falando que nem um... Desculpe. Fazer o quê?

Sandra Chaves disse...

Fazemos parte de um grupo de velhinhos privilegiados. Pensar na aposentadoria e poder viver dela é já um privilégio. A maior parte da população pensa em poder não pagar passagem. Eu ainda penso na meia entrada do cinema... privilégio !
Comprar muitos remédios então... a maior parte morre por falta de tratamento. Como não podemos , não temos a capacidade de mudar isso,brindemos... vamos tomar muitas, enquanto a "indesejada das gentes" não chega.

LOUCA PELA VIDA disse...

Ho... caramba!!! Caramba, velho!!!Rsrs. Grande abraço e parabéns pela irreverência moleca, portanto jovem de tratar do tema.

Geraldo Peixoto disse...

Dotore va benne, adorei sessentinha me fodi, e eu então seventieich, cumuéquefica, é uma durezade um lado e uma moleza do outro, estatisticamente falando seria uma situação intermediaria nem mole nem dura, mas frapê como a ciencia só aceita a prova .estatistica me parece razoavel esta situaçãoa alias como sempre dizem os cara que não seus coloegas da ABP. Mas deixemos isso pra la, cruz credo, mangalo treis veis, quero mesmo é falar do grande prazer de saber deste teu blog, vou ficar leitor e escrivinhador de carteirinha, principalmente qui osomi do Ministerio da Educação liberogeral, vale nois vai, nois fica, com um s só ou com dois ou com ç, ou com ~ ou sem ~ ...finalmente o povo perde a vergonha de escrever e se liberta da academia, para angustia e sofrimento dos academicos dos belotristas da escrita empolada e inacessivel para nos todos pobres mortais. Parabens ao MEC e ao jovem e boa pinta, (essa é dasantiga em Edmar) Sr ministro, iii, caramba esqueci seu nome. Convoco a todos deserdados da alta kultra a unirem-se em torno do jovem ministro. Vou comprar o Meduna eo o Ouvindo Vozes, que já deveria ter feito a mais tempo, só lamento, a falta de uma dedicatoria e um forte abraço, deste companheiro e militante. Estou fazendo uma campanho por onde ando de que a militancia da reforma e da luta antimanicomial, lance um nome de nossa confiança, de um psiquiatra, para concorrer nas proximas eleições da ABP. Aceitas? É nois Geraldo e Andre.
São Vicente - Celula Mater da Nacionalidade.