Edmar Oliveira
A globalização fez ecoar os tiros de Colombine em Realengo. Um comportamento que não era da nossa tradição alcançou o subúrbio carioca vitimando
crianças inocentes nas salas de aula. Imitação da loucura americana que se repete de tempos em tempos. Aqui pouco importa se estamos falando de um psicopata, um psicótico, um traumatizado. Wellington destilou seu ódio aprendendo a habilidade de manejar armas, que um malfadado estatuto do desarmamento deixa circular. Fabricamos e exportamos armas que voltam pela fronteira em contrabando para ceifar vidas na violência nossa de cada dia. E uma arma, comprada legalmente por um morador da zona sul foi parar nas mãos de Wellington, depois de ter sido roubada. As armas sempre vão encontrar as mãos do criminoso. Mas esse inexplicável comportamento monstruoso nos pegou de surpresa.
Ninguém falava com Wellington. Nem se falava dele. Era um invisível na sua vida imperceptível, sem amigos, sem família, torturado pela lembrança da mãe que o deixara cedo. Premeditou sua ação. Ninguém falava com ele ou dele. Não existia. Ensimesmado dentro de um computador pesquisava sua ação. Não faltam sites de incentivo à violência. Preparou a sua atuação monstruosa.
Numa manhã, que escolheu como a que marcaria com sangue de inocentes a sua insana vingança contra o mundo, acordou cedo. Com duas armas e bastante munição numa sacola saiu da distante Sepetiba para Realengo. Entrou tranquilamente na escola. Ninguém falava com ele. Era invisível. Só uma professora antiga lembrava-se dele, mas pediu que a aguardasse. Beijou-a na testa e saiu. Subiu as escadas para as salas onde estudara no passado. O seu ódio, acumulado no tempo, misturou as crianças do presente com a criança que fora no passado. Virou um monstro no ódio incontido e atirou, com a firme disposição de matar. Recarregou a arma com perícia e atirou por um tempo infinito de quinze minutos. A fera abatia inocentes indefesos. Nossas crianças que procuravam o futuro na escola ficaram sem ele na ação injustificável de um monstro assassino. Um policial pensou ter detido sua sanha homicida ferindo-o no abdômen. Ainda teve tempo de cometer sua imolação suicida com um tiro na cabeça para que sua carta fosse lida. A carta anunciava que estaria morto. Sua atuação para a mídia não podia falhar no planejado. O invisível se tornou visível.
E ele preparou a sua visibilidade dialogando com a mídia. Ninguém falava com ele, ele se sentia invisível, mas sabia que a mídia, ansiosa por notícias mórbidas, o tornaria visível. Premeditou sua ação para aparecer nos jornais, na televisão que passava imagens quase em tempo real. Ele sabia que a mídia o faria aparecer. O monstro sanguinário virou o personagem principal do dia, ofuscando até um novo terremoto no Japão. Esse terremoto de sangue era mais vendável. E Wellington sabia disso.
Não sem razão, Cho Seung-hui, o homicida do massacre de Virginia Tech, há quase quatro anos atrás, deixou um vídeo gravado, que foi destaque nas TVs, com uma frase, que os comentaristas de então acharam enigmática: “vocês me levaram a fazer isso”.
Wellington atuou, de forma monstruosa, para a mídia. Sabia que ela o tornaria visível. Colombine é aqui, assim como o Haiti. A globalização também é trágica...
4 comentários:
E agora? Será que outros "invisíveis" não vão querer imitar Wellington na forma encontrada para "ficar famoso", tal qual aconteceu nos EUA? O que não falta por aí são pessoas recalcadas, esperando um momento pra descarregar seu ódio pelo mundo. Infelizmente.
tks, Edmar por pegar o touro à unha nesse caso abominnável, ainda não consigo falar sobre isso, mas vc já pôde nos dar alguma luz, gracias!
Edmar,
esse texto, a meu ver, é leitura necessária a cada brasleiro alfabetizado. Enviei-o a todos da minha lista de e-mails, além de
recomendar a visita ao blog que, como sempre, está arrebentando.(Às vezes me pergunto o que faço aqui).Mas essa edição
NÃO TEM GRAÇA... NEM ANA. Convenhamos,não é a mesma coisa.
Gervásio, vc é um fofo...
Edmar,obrigada...
Ana
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