domingo, 13 de março de 2011

THE HEART & SOUL OF MEMPHIS

1000TON

Mestre Zé Keti me empresta um pedaço do seu grande samba e eu devolvo mais um prosaico artiguinho quinzenal que passo a escrever. E desde já, o meu muito obrigado.


“Eu sou o blues, a voz de Memphis sou eu mesmo sim senhor, quero mostrar ao mundo que tenho valor......”.


Memphis, Tennessee, 1948. 40% da população era de negros e fazia-se de conta que eles não existiam, subentendida aí a sociedade branca-azeda-olhos-azuis- racista. Ou melhor, os crioulos existiam sim, claro, mas deixem livre o nosso caminho, please, mantenham-se atrás dessa risca, nas suas escolas, casas, bares e restaurantes, banheiros públicos, ônibus, enfim nos espaços, quero dizer, guetos, generosamente reservados para todos vocês black people.


E a WDIA-RADIO, The heart and soul of Memphis, AM1070, mandava ver na música negra pelos ares da cidade dando seu recado: um canto que saía diretamente do útero da terra para as negras cordas vocais: gutural, primal, sofrido, cru, puro sentimento e instintiva revolta e ia entrando, sem pedir licença, pelos “galenas” de toda a cidade.


Aí meu camarada os incautos ouvidos dos branquelos começaram a apreciar aquele som, completamente diferente e muito mais rascante do que as melodias românticas, xaropemente gordurosas da programação água-com-açúcar dos caras-pálidas. Miaaau! Este era o som gatinho manhoso dos brancos. Ohúúúú! Esse era o uivo irado de um selvagem coiote da black music!


E aí meu camarada surgiu logo depois o Martin Luther King, e aí meu camarada os decibéis da WDIA já eram mais vigorosos: a crioulada tinha comprado equipamentos mais poderosos e.... Pronto! A voz da negritude atravessava coast to coast os EUA inteirinho!


E AGORA, VAI ENCARAR? Joan Baez e Bob Dilan, por exemplo, encararam. E mais do que ficar do lado dos negros, mandaram seus ácidos recados contra a sociedade americana segregacionista, arrogante e reacionária.


Oriente Médio, 2011, março. Os povos árabes fazem um “carnaval” nas praças, clamando por liberdade. Livres não o foram durante décadas e mais décadas, subjugados pelo imperialismo ocidental, ou por seus próprios tiranos, tipo os Kadafis e os Mubaracks da vida.


Deitada eternamente em berço petrolífero esplêndido, essa realeza vendeu seu povo a uma família americana, eles têm carro, eles têm grana (Leminski sempre me auxilia), e são muito, mas muito viciados mesmo no negro óleo cru.


Assim como em 1948, em Memphis, os brancos fingiam que os blacks não existiam, lá no oriente médio o Ocidente esqueceu, também, que o povo árabe existia.


No problem. Desde que eles pudessem abastecer seus turbinados Volvos e Corollas com gasolina aditivada, para que se incomodar com essa gentalha que usa uns turbantes esquisitos, fede a catinga de camelo, faz cocô no deserto e se limpa com areia?


Bombas de gasolina, tremei! As grandes potências estão se borrando de medo!


Os povos árabes azedaram o Mardi Gras dos caras-pálidas da parte de cima do equador, cantando, gritando e clamando por liberdade. Definitivamente botaram seus blocos nas ruas...


O que vem por aí, brôu, é uma verdadeira revolução!

“EU SOU O POVO, A VOZ DA PRAÇA SOU EU MESMO SIM SENHOR, QUERO MOSTRAR AO MUNDO QUE TENHO VALOR, EU SOU O REI DAS ARÁBIAS”.

SALAM ALEIK !


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